José Manuyama, indígena Kukama da Amazônia peruana, lida com a contaminação do rio Nanay pelo garimpo e pelo petróleo. Ele luta contra o mercúrio e as doenças. No Oeste do Pará, o cacique Manoel, do povo Munduruku, tem seu território sitiado pela expansão do monocultivo e exportação da soja, intensificada pelo projeto de agronegócio da Cargill. Luta contra o domínio da terra e a tentativa de extinção da biodiversidade. Enquanto a cacica Katia, do povo Akrãntikatêgê, de Marabá (PA), tenta preservar sua cultura em um território devastado pela mineração da Vale S.A anos após ter visto sua família expulsa durante a implantação de uma Usina Hidrelétrica no coração da Amazônia.
Estes são os personagens que o diretor Marcos Colón apresenta em “Pisar Suavemente na Terra”, que estreia na plataforma de streaming Globoplay a partir de 9 de agosto de 2024, sexta-feira, Dia Internacional dos Povos Indígenas. Com tema de Gilberto Gil, a produção conecta as três histórias por meio da narrativa do imortal Ailton Krenak.
Premiado no Festival Cine Periferias (melhor longa), de Portugal, e no carioca Filmambiente, (fotografia), o filme venceu o prêmio de melhor longa no Ecoador – Festival de Cinema Ambiental (Equador). Este documentário de 73 minutos nos conduz numa jornada repleta de “algo mais”.
Colón leva o público com ele para escutar, aprender, registrar e, agora, divulgar as vozes de Kátia, Manoel, José e Ailton, mas também de seus ancestrais e descendentes. Vozes tão poderosas que vivem no limiar do que parece ser real para a maioria de nós.
Mas eles são reais: os arredores de Santarém, Marabá e Tabatinga, no Brasil; Iquitos no Peru e Letícia na Colômbia são os lares desses defensores da Amazônia que enfrentam um verdadeiro embate “Davi vs. Golias”. Eles lutam contra as engrenagens do Estado e das empresas que destroem a vida sob promessas de “desenvolvimento” e que desencadeiam a morte ao impedir a continuidade da vida e da biodiversidade na região.
A coragem e a sabedoria de Kátia, Manoel e José estão conectadas pela consciência e pela voz de Krenak em uma proposta ousada e revolucionária para salvar a Amazônia (e, com ela, o planeta inteiro): reconhecer que somos parte de algo maior.
Costurados por suas perdas e fortalecidos pela certeza de que precisam sobreviver para lutar pela permanência da floresta, cada um deles nos mostra um modo de vida que, inicialmente, os faz parecer extraterrestres. Em um pensar e viver tão diferenciados que parecem não pertencer a este plano/dimensão/realidade até que, frase a frase, olhar a olhar, em cada riso e lágrima, em cada quadro deste documentário, eles nos mostram que não é possível viver na Terra se não nos reconhecermos como parte dela. Que o costume não-indígena propagado pela lógica (limitada e distorcida) de “desenvolvimento” é o verdadeiro invasor, o estrangeiro, o alienígena.
Krenak aponta que é o modo de viver não-indígena quem cria uma dicotomia de um “nós” apartado “deles/outros” e, diz ele, “esse ‘outros’, para além dos outros seres humanos, é tudo o que é vivo. Aquilo que é chamado de natureza – o rio, a floresta, as montanhas – fica excluído dessa humanidade e ganha um amplo sentido de sub-humanidade, que é todo o resto. [E] a tragédia mais gritante [desse processo] é que o ‘resto’ mais visível [dessa exclusão] é feito de humanos”.
Juntos – Kátia, Manoel, José e Ailton – nos levam à necessidade de aprender a “Pisar Suavemente na Terra”, de aprender como humanos a vivermos tão integrados à ela que nossa caminhada não deixaria marcas para trás. Aprender a passar pela vida e pela Terra sem ferir o planeta, sem “comer o mundo” onde vivemos, semeando um pouco dele em nós e, assim, garantir sua continuidade para todos os que virão.
Sinopse
No documentário “Pisar Suavemente na Terra”, três lideranças indígenas da Amazônia tentam manter vivas suas formas de estar no mundo. São as histórias de Kátia, cacica do povo Akrãtikatêjê, de Manoel, cacique do povo Munduruku e de José Manuyama, professor de origem Kokama. Os três narram as ameaças aos seus territórios promovidas pela grande mineração, pelo monocultivo, pelo garimpo, pela exploração de petróleo, pela extração de madeira e pela construção de usinas hidrelétricas. Interligadas pela voz e o pensamento ancestral de Ailton Krenak, esses relatos de resistência nos apresentam outras formas de existir e caminhar no mundo.
Sobre Marcos Colón
Marcos Colón é professor de Mídia e Comunidades Indígenas da Southwest Borderlands Initiative na Walter Cronkite School of Journalism and Mass Communication da Arizona State University. Ele também produziu e dirigiu “Beyond Fordlândia” (“Muito Além da Fordlândia”, 2018). Ele é o editor-chefe e fundador da revista ambiental Amazônia Latitude.
Ficha técnica
“Pisar Suavemente na Terra” (2022) | Documentário | 73 min
Participações
Kátia Akrãtikatêjê,
Manoel Munduruku,
José Manuyama e
Ailton Krenak
Créditos
Direção & Produção: Marcos Colón
Roteiro: Marcos Colón & Bruno Malheiro
Fotografia: Bruno Erlan & Marcos Colón
Edição & Trilha Original: Diego Orix
Edição De Som & Mixagem: Ricardo Bento
Fotografia Adicional: Francinaldo Damasceno, Alberto Ferreira e Denivaldo Gaia
Produção Executiva: Erik Jennings & Marcos Colón
Produção Local Peru: João Paulo Pires & Marcos Colón
Colorização: Lupércio Bogéa
Design Gráfico: Fabricio Vinhas
Animações: Cristiano Frezza
Som Direto: Marcos Colón & Bruno Erlan
Pós-Produção: Estudiolab & Trix Produções
Tradução para Língua Jê: Lucilvado Costa
Tradução para Inglês: Edward Layland
Revisão em Inglês: Chanelle Dupuis
Revisão em Português: João Paulo Pires
Tradução para Espanhol: José Ángel Quintero Weir & João Paulo Pires
Música: “Refazenda”, de Gilberto Gil
Direitos Autorais da Música: Cortesia de Gege Produções
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