Há um aspecto motivacional que transcende a ficção nesses clássicos “filmes de boxe” norte-americanos, cuja identidade deve muito a saga Rocky, iniciada em 1976.
Essa potencialidade se mostrou ainda sagaz dado o sucesso – artístico e popular – de Creed: Nascido Para Lutar (2015), e que diz muito sobre os pontos fortes de sua continuação, Creed 2.
Com referências claríssimas a Rocky 3 e Rocky 4, a história dessa vez mostra o jovem boxeador Adonis Creed (Michael B. Jordan) sendo desafiado dramaticamente quando o temível algoz de seu pai Ivan Drago (Dolph Lundgren) chega a Filadélfia para lançar um desafio ao pupilo de Rocky Balboa (Sylvester Stallone).
Drago quer que Adonis enfrente seu filho Viktor Drago(Florian Munteanu), que parece ter a mesma perversidade e competência do pai nos ringues, ainda que envolto por abismos da própria família que dizem muito sobre o que ele é. O pai quer com isso, limpar a humilhação pública de ter sido derrotado por Rocky anos atrás.
Rocky orienta Creed a não aceitar o desafio, mas o jovem lutador tem suas questões pessoais (a morte do pai) e psíquicas (a superação do trauma de uma derrota injusta). Para tal, conta com a figura – dessa vez mais valorizada, da mulher Bianca (Tessa Thompson, ótima), cuja gravidez estabelece um fator motivador para a virada da trama.
Creed 2, agora dirigido por Steven Caple Jr, entrega tudo exatamente o que se espera desses tais “filmes de boxe”. EXATAMENTE. Até aquela tensão da luta final está lá, do jeitinho que a gente espera. Nesse sentido o filme perde muito para o anterior, uma vez que o primeiro Creed propunha uma interessante desconstrução do próprio mito que o criou, na figura de Stallone.
O roteiro – com Stallone entre os autores – até investe na “jornada do herói” do protagonista, e a direção de Caple Jr capta esses momentos com sensibilidade, como na ótima cena do teste de surdez do bebê recém-nascido.
Porém tudo que o cerca é construído pela banalidade da caricatura. Os vilões parecem de cartoon e seus conflitos são mais expositivos que desenvolvidos. Uma prova disso é o reencontro entre Rocky e Drago – um momento clássico não só pelo filme em si, mas pela História do cinema – que é escrito de maneira rasteira e totalmente anti-climática.
Mas estamos falando de um filme representativo do legado Rocky, ou seja, forte o bastante para se impôr até diante de suas limitações. E por mais que seus clichês não permitam que o filme não se supere, mesmo falando de superação, sua competência dramática ainda estimula catarses (sim, esse que vos escreve não ficou imune aos arrepios quando os acordes da clássica canção de Rocky irrompe em uma cena importante).
O legado carrega o filme e o justifica. É, no mínimo, um entretenimento satisfatório dentro do que se propõe e espera dele. Já é o bastante para seu aspecto motivacional se manter intacto desde da década de 1970…
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