Crítica: “Divertida Mente” encanta e emociona como só a Pixar sabe fazer

De uns anos para cá, a Disney/Pixar parecia ter entrado numa fase de entressafra criativa, mesmo que, ainda, tenha mantido o sucesso popular. A última grande obra criada pelos dois estúdios foi “Toy Story 3”, em 2010, e desde então seus projetos foram irregulares, como “Carros 2”, “Valente” (que ganhou o Oscar de Animação de 2012) ou “Universidade Monstros” que, embora sejam interessantes, deram a impressão de que faltava parte do encanto que conquistou a admiração e o respeito de todos.

Mas parece que os bons tempos voltaram, graças a “Divertida Mente” (“Inside Out”), que consegue a proeza de fazer rir e emocionar na medida certa, além de causar uma reflexão sobre os ritos de passagem que as crianças passam numa determinada fase da vida, com uma criatividade única e fascinante.

A história é centrada na menina Riley, de 11 anos, que tem que deixar a sua cidade, no estado de Minnesota, no meio-oeste dos Estados Unidos, quando seu pai arranja um novo emprego em San Francisco.

Assim, as emoções que regem a vida de Riley, Alegria (dublada por Amy Poehler no original e Miá Mello na versão em português), Medo (Bill Hader/Otaviano Costa), Raiva (Lewis Black/Leo Jaime), Nojinho (Mindy Kaling/Dani Calabresa) e Tristeza (Phyllis Smith/Katiuscia Canoro),tentam fazer o possível, dentro da Sala de Controle que há no interior de sua mente, para que ela se adapte bem à essa nova realidade.

Os problemas começam quando um acidente faz com que Alegria e Tristeza sejam levadas para fora da Sala de Controle e, juntas, têm que passar por uma longa jornada para voltar ao local. Enquanto isso, Raiva, Medo e Nojinho são obrigados a comandar a mente da garota que, aos poucos, começa a mudar seu comportamento com os pais por causa do seu novo universo que encontra com a mudança de cidade.

O que mais impressiona em “Divertida Mente” é o excelente roteiro do diretor Pete Docter (de “Monstros S.A.” e “Up – Altas Aventuras”, que aqui divide a direção com Ronaldo Del Carmen), Meg LeFauve e Josh Cooley. O texto consegue, com muita competência e bom humor, entreter e refletir sobre questões até mesmo psicológicas, já que trata das reações que as pessoas têm no dia a dia, em situações aparentemente corriqueiras, mas que podem provocar grande impacto em sua vida. Afinal, Riley é uma menina que passa por fortes e repentinas mudanças e não consegue lidar bem com todas elas.

A maneira que os roteiristas encontraram para mostrar essas questões é tão original que desperta o interesse não só das crianças como também dos adultos, como por exemplo representar certos pilares da bússola comportamental das pessoas, como a família ou mesmo a bobeira, como ilhas, ou a liderança de Alegria sobre as outras emoções para que Riley mantenha o seu equilíbrio e, com a sua ausência, as coisas ficam instáveis, embora tratadas de forma leve, ainda que reflexiva.

Outro grande destaque é como o roteiro desenvolve muito bem todos os personagens, tornando-os extremamente carismáticos. Em especial, obviamente, as emoções de Riley. Aliás, vale ressaltar a excelente direção de dublagem da versão brasileira, que tornou as vozes de Miá Mello, Katiuscia Canoro, Leo Jaime, Dani Calabresa e Otaviano Costa quase irreconhecíveis e adequadas a Alegria, Tristeza, Raiva, Nojinho e Medo, respectivamente. Eles ajudam a criar a magia que transporta os espectadores para o universo da mente de Riley, que também possui outros elementos interessantes, como o fofo amigo imaginário da menina Bing Bong, que chega a ajudar Alegria e Tristeza a voltar para a Sala de Controle.

Assim como outras grande obras da Disney/Pixar, como “Toy Story”“Monstros S.A.”,  “Procurando Nemo” ou Wall-e”, “Divertida Mente” cria uma dupla improvável (e por isso, sensacional) ao fazer com que dois sentimentos tão antagônicos como Alegria, sempre otimista, e Tristeza, constantemente melancólica, se juntem para conseguirem superar seus obstáculos e que, no fim das contas, descobrem qualidades e semelhanças entre si e que podem conviver da forma mais amigável possível. E isso causa uma grande identificação em, praticamente, todas as pessoas que forem assistir a esse filme.

Com uma ótima trilha sonora de Michael Giacchino (de “Os Incríveis” e “Up – Altas Aventuras”), além de um ótimo 3-D, “Divertida Mente” tem tudo para se tornar a melhor animação de 2015 (tanto que foi bastante aplaudido e elogiado no Festival de Cannes deste ano), dá vontade de ver e rever várias vezes, além de deixar muita gente com um belo sorriso no rosto ao fim da sessão. Aliás, não saia do cinema antes do fim dos créditos, já que as sequências que são mostradas são muito engraçadas e completam o prazer que o filme proporciona.

Que bom ver que a Pixar está de volta e os fãs de cinema e animação esperam que mais coisas boas surjam logo nos próximos anos que virão.

Sair da versão mobile