Em 2005, Mônica Martelli iniciou sua escalada de sucesso com seu monólogo “Os Homens são de Marte… E é pra lá que eu vou”. Iniciou no pequeno Teatro Cândido Mendes e logo passou para o Teatro da Gávea devido ao sucesso de público (sobretudo feminino). Todos se divertiam e se identificavam com as desventuras daquela mulher na casa dos 30 à procura de um grande amor, narradas em primeira pessoa pela atriz, com graça e carisma. Sete anos após o inicio das apresentações, iniciou-se o projeto de uma versão cinematográfica, aproveitando o bom momento que vive o cinema nacional, sobretudo na seara das comédias. Assim sendo, “Os Homens são de Marte… E é pra lá que eu vou” (Brasil, 2014) já entra em campo com o jogo ganho, pois as pessoas já estão familiarizadas com a história, ou pelo menos sabem do que se trata.
Fernanda (Mônica Martelli), 39 anos, exemplo da mulher do terceiro milênio, é livre em suas escolhas, independente e com dificuldade de encontrar um amor. Organizadora de festas de casamento, ela se vê obrigada a assistir de camarote a felicidade alheia enquanto a sua própria parece nunca chegar. Na busca frenética por um par ideal, ela se envolve com diferentes tipos de homens – do político sedutor ao hippie gringo. E a cada tentativa, acredita ter encontrado o amor da sua vida. Ela se joga nas relações sem medo, vive intensamente cada encontro e é muito otimista: sempre acha que vai dar certo. O filme começa com a personagem citando a frase de Oscar Wilde, “amar a si mesmo é o inicio de um romance para toda a vida”. Só que na maioria das vezes as coisas não saem como o planejado. Daí ela conta com a ajuda da amiga paqueradora e dublê de taróloga, Nathalie (Daniele Valente), e com as análises contextuais realistas e conselhos pouco ortodoxos do amigo gay, Aníbal (Paulo Gustavo). Fica claro durante a exibição que o diretor Marcus Baldini (de “Bruna Surfistinha” e da série “Psi”) buscou influência em comédias românticas como “Um Lugar Chamado Notting Hill”, “O Diário de Bridget Jones”, e “O Casamento do Meu Melhor Amigo”. As luzes, tons e até enquadramentos e movimentação de câmera remetem a esses títulos, grandes referências do gênero chick flick (como os americanos chamam o gênero comédia de mulherzinha).
Para Mônica, a tarefa foi fácil, devido à intimidade com seu texto. Porém, como acreditar que uma mulher deslumbrante, como ela aparece o tempo todo em cena, tem dificuldade para arranjar um companheiro? Ok, azar existe, mas seria mais crível se ela usasse a mesma composição menos glamourizada dos palcos, até para que as expectadoras se identificassem mais com o drama da personagem. A maior parte das situações são encenações dos casos que na peça ela conta com uma graça contagiante, mas nem sempre uma piada contada tem a mesma graça quando encenada. Em alguns momentos isso fica visível no filme, apesar do bom timing de comédia de Mônica. Mas em outros, as situações funcionam muito bem, como a escolha dos covers de Lulu Santos para se apresentar no lugar do cantor no casamento do filho de uma ricaça, interpretada de forma impagável por Irene Ravache. Por falar na veterana atriz, o trunfo do filme é contar com um elenco de apoio inspirado, a começar por Paulo Gustavo, que rouba a cena, apesar de sua composição caricata e histérica. A pequena participação de Milhem Cortez também é hilária.
Incomoda o excesso de mershandising colocado no filme, sem a menor questão de ser sutil. A participação de Lulu Santos também parece forçada. A contextualização de sua entrada não se justifica e deixa claro que ele está ali simplesmente porque queriam um cantor famoso em cena. Por fim, Os Homens São de Marte é uma diversão ligeira, sem compromisso e honesta, entregando exatamente aquilo a que se propõe. No todo, a peça sai ganhando, mas a versão cinematográfica também tem seu charme e certamente levará um bom público aos cinemas.
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