Já tem algum tempo que Cameron Crowe não consegue cativar público e crítica com seus trabalhos. O último filme que consegue ser lembrado com alguma relevância foi “Vanilla Sky”, de 2001, e ainda assim, não obteve uma unanimidade positiva. Depois, vieram os irregulares “Tudo Acontece em Elizabethtown” (2005) e “Compramos um Zoológico” (2011) e, entre eles, os documentários (ambos de 2011) “Pearl Jam Twenty”, sobre os 20 anos da banda grunge mais bem sucedida mundialmente, e “The Union”, que mostra os bastidores das gravações do álbum que reunia Elton John e Leon Russell. Mas Crowe sempre teve uma boa reputação em Hollywood, o que permitiu trabalhar com os melhores nomes do cinema americano em seus projetos, como na sua mais recente produção, “Sob o Mesmo Céu” (“Aloha”). Porém, é uma pena que, desta vez, ele realizou uma obra tão decepcionante, que não mostra a que veio, e caminha para ser um dos maiores fracassos de sua carreira, tanto artística quanto financeiramente.
O filme acompanha a trajetória de Brian Gilcrest (Bradley Cooper), um ex-militar que fracassa numa missão no Oriente Médio e acaba voltando ao Havaí, sua terra natal, após ser contratado pelo milionário Carson Welch (Bill Murray), que pretende desenvolver um grande projeto no programa espacial de Honululu. Assim que desembarca, ele é recepcionado pela motivada oficial da Força Aérea Allison Ng (Emma Stone), que pretende ajudá-lo em sua missão de realizar o desejo de Welch, sem causar maiores danos aos havaianos. Mas Brian também acaba reencontrando Tracy Woodside (Rachel McAdams), um grande amor do passado, que acabou se casando com John ‘Woody’ Woodside (John Krasinski), que morre de medo dessa reaproximação do casal. A situação fica ainda mais complicada quando Brian se envolve com Allison e o faz rever suas decisões na vida. Além disso, ele tem que lidar com a desconfiança do general Dixon (Alec Baldwin), que acredita que seu ex-comandado pode colocar tudo a perder.
O que mais desaponta em “Sob o Mesmo Céu” é que Crowe parece ter desaprendido a dirigir e a escrever bons roteiros. O cineasta, que soube criar tramas e personagens cativantes em filmes como “Quase Famosos” e “Jerry Maguire: A Grande Virada”, aqui parece não ter muito a dizer e erra feio na trama romântica do longa. Um exemplo disso é o rápido envolvimento entre os protagonistas, não dando o espectador nem tempo para torcer pela dupla, por mais carismática que seja. Basta comparar o encantamento provocado pela relação entre William Miller (Patrick Fugit) e Penny Lane (Kate Hudson) em “Quase Famosos”, onde o jovem escritor se apaixona pelo jeito fascinante da garota de cuca fresca e despreocupada. Além disso, os personagens coadjuvantes, que eram tão interessantes em outros filmes, são maçantes e pouco acrescentam à trama, que também é mal construída. Outro grave problema é que o meio da produção é bem arrastada, capaz de causar sono, especialmente para os fãs de comédias românticas, que desejam apenas rir e se descontrair por cerca de duas horas num cinema.
Mas nem tudo é condenável em “Sob o Mesmo Céu”. Verdadeiro amante de música, Crowe acerta em sua trilha sonora, que mistura sucessos de artistas do Pop-Rock, como Rolling Stones, Tears For Fears e Daryl Hall & John Oates, com canções tipicamente havaianas, que ajudam a transportar o espectador para a atmosfera do Havaí. Além disso, a ótima fotografia de Eric Gautier, de “Na Natureza Selvagem” e “Diários de Motocicleta”, cria deslumbrantes tomadas das belezas havaianas, que dão vontade de visitar o lugar assim que o filme termina. Embora tenha uma parte enfadonha no meio da trama, a história melhora bastante em sua parte final, que cria uma engraçada sequência entre os personagens de Cooper e Krasinski (que não vale a pena contar para não estragar a surpresa) e um belo e emocionante desfecho logo em seguida. É uma pena, no entanto, que demore muito para elas chegarem.
Outro destaque no filme é o excelente elenco que Cameron Crowe reuniu para o seu filme, embora nenhum deles tenha realmente uma chance de brilhar. Bradley Cooper, depois de ter um ótimo ano e mostrar que pode ser, sim, um ator de verdade em “Sniper Americano” (quando foi indicado ao Oscar) e fazendo a voz do Rocket Racoon de “Guardiões da Galáxia”, aqui conta apenas com o seu carisma para defender o seu papel. Ele não decepciona, mas também não faz nada de relevante. O mesmo acontece com Emma Stone, que demora um pouco a engrenar e está mecânica demais nas suas primeiras cenas. A atriz também é prejudicada pelo fato de que sua personagem é descrita como uma nativa do Havaí e não tem nada, tanto fisicamente quanto psicologicamente, característico da região, o que causou polêmica nos Estados Unidos e fez até o diretor se desculpar publicamente por sua escalação. Tudo bem que nenhum integrante do trio principal se pareça com típicos havaianos, mas no caso de Emma isso ficou mais evidente.
Já Rachel McAdams se baseia apenas em seu belo sorriso e sua simpatia para compor Tracy e se torna tão irrelevante que, se muitas de suas cenas fossem cortadas, não faria nenhuma diferença. Aliás, as questões que a envolvem também prejudicam John Krasinski, cujo jeito caladão dele só encontra alguma utilidade já no final, e demonstram a falta de química entre os dois. Os únicos que se salvam são Bill Murray, que se tornou um especialista em criar tipos meio descontraídos e aqui não é diferente, e Alec Baldwin que, embora aparça pouco, consegue fazer rir como um general estressado.
Embora seja pouco convincente como comédia romântica, “Sob o Mesmo Céu” pode até encontrar fãs em seu lançamento no Brasil. Mas o resultado final parece ter sido feito por um cineasta em início de carreira e não alguém que já é praticamente um veterano na sétima arte. Infelizmente, Cameron Crowe realmente ficou devendo. De qualquer forma, Aloha! Fica para a próxima vez.
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