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Crítica: "X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido" é a gloriosa volta dos mutantes

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Falando aos fãs de X-Men é bom iniciar o texto com o que alguns podem considerar uma má notícia: “Dias de Um Futuro Esquecido” (Days of a Future Past, E.U.A/2014) está longe de ser uma adaptação fidedigna da HQ homônima publicada pela Marvel Comics em 1981. A saga, de autoria de Chris Clermont e John Byrne (dupla responsável por levar os X-Men para o primeiro escalão da Marvel) serve apenas como mote para o roteiro do filme, que marca ao retorno de Bryan Singer ao universo de super-heróis oito anos após Superman: O Retorno.
Na trama, em um futuro distópico, os mutantes são caçados impiedosamente pelas Sentinelas, gigantescos robôs criados pelo chefe político anti-mutante Bolívar Trask (Peter Dinklage). Os poucos sobreviventes precisam viver escondidos, caso contrário serão também extintos. Entre eles estão o professor Charles Xavier (Patrick Stewart), Magneto (Ian McKellen), Tempestade (Halle Berry), Kitty Pryde (Ellen Page) e Wolverine (Hugh Jackman), que buscam um meio de evitar que os mutantes sejam aniquilados. O meio encontrado é enviar a consciência de Wolverine em uma viagem no tempo, rumo aos anos 1970. Lá ela ocupa o corpo do Wolverine da época, que procura os ainda jovens Charles Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael Fassbender) para que, juntos, impeçam que este futuro trágico para os mutantes se torne realidade.
Os fãs, no entanto, não precisam se desesperar: a produção é um grande acertado e Singer entrega um filme de heróis que tanto leitores quanto público em geral merecem ver. A ideia desta nova aventura dos alunos do Professor Xavier foi concebida, na verdade, para unir os dois universos cinematográficos dos Mutantes: a trilogia da década passada e o ótimo X-Men : Primeira Classe. Daí, aproveitar a ideia de viagem no tempo caiu como uma luva.
Embora saibamos que Wolverine fora escolhido para ser o personagem principal devido a sua imensa popularidade entre o público leigo, tornando o filme mais vendável, a explicação para ser ele o “viajante no tempo” é bastante plausível. Inclusive a cena em que ele aterrissa em sua consciência de 1973 é hilária e ao mesmo tempo sintetiza a personalidade do “carcaju” de forma perfeita, fazendo-nos esquecer em segundos aquelas duas bombas cinematográficas a que o personagem foi submetido. Também é engraçada a brincadeira com a viagem no tempo de O Exterminador do Futuro (James Cameron teria se inspirado em Dias de Um Futuro Esquecido para criar o filme): Wolverine também chega nu, mas por outro motivo.

O que faz o universo Marvel ser tão atrativo é o fato de se utilizar de personagens que, apesar dos poderes, têm de lidar com conflitos e problemas de pessoas comuns. Peter Parker, por exemplo, após salvar o mundo de uma grande ameaça, descobre que não tem um centavo na conta, ou depara-se com uma nota horrível na faculdade.
No caso dos X-Men, o problema é ter que conviver com o preconceito e a perseguição por serem anomalias. Quando Stan Lee e Jack Kirby criaram os personagens, era a época em que os negros estavam lutando por seus direitos civis nos Estados Unidos. A ideia era falar de intolerância racial e mostrar dois grupos encarando a questão de formas distintas. Professor Xavier, assim como Martin Luther King, acreditava na integração e Magneto tal qual Malcom X via o olho por olho dente por dente como a única solução. Esse conceito essencial da criação dos X-Men só foi de fato aprofundado a partir de “Primeira Classe”, que se centrava mais na questão da descoberta, da “saída do armário” dos filhos do átomo. Neste novo filme eles já estão inseridos na sociedade, ainda aprendendo a conviver com esses seres anormais.

A trama segue a mesma linha de abordagem adulta do filme de 2011, apenas apresenta mais cenas de ação, que são ótimas, diga-se de passagem. O roteiro de Simon Kingberg foi escrito a partir do argumento de Mathew Vaughn, diretor e roteirista de “Primeira Classe”. Kinberg também fora o produtor daquele filme, e já esteve envolvido tanto com X-Men (ele foi roteirista de O Confronto Final), quanto com viagens temporais (foi um dos roteiristas de Jumper). Kinberg parece ter aprendido com Vaughn como desenvolver uma boa história com os mutantes, daí ter sido muito mais feliz do que quando debutou neste universo, em 2006. Pode-se dizer que esse filme elimina toda a sujeira deixada pelo filme de Brett Ratner, que enterrou por um tempo a carreira da equipe principal no cinema.
Bryan Singer voltou ao mundo dos quadrinhos em excelente forma. Sua direção aqui é tão precisa e inspirada quanto fora em X-Men 2. Não há como negar que o cineasta é ótimo com cenas de ação e a forma como ele trabalha com efeitos especiais, embora em alguns momentos possa ser deveras espetaculosa, é coerente com a trama na maior parte do tempo. Ainda mantendo a coesão com o filme anterior, o elenco aqui é o grande destaque. Sir Patrick Stewart brilha, mesmo com uma participação não tão significativa. Ocorre que ele é a personificação de Xavier (uma das escolhas mais felizes da história das adaptações de HQs para o cinema) e sua presença já é o bastante para estampar sorrisos de felicidade nos rostos dos fãs. O show volta a ser mesmo de James McAvoy, na inspiradíssima interpretação de um jovem e descrente Xavier, renegando seus poderes e a responsabilidade que eles acarretam. O Magneto de Fassbender, a razão de ser do filme de” Primeira Classe” (que a principio seria um filme solo do líder da irmandade) volta a encantar, endossando o talento do ator. A cena em que ele usa seus poderes em um estádio, que felizmente o trailer não entregou por inteiro, é impressionante e empolgante.

Já Jackman está em sua melhor interpretação de Wolverine desses 14 anos em que o personagem o acompanha. Até esquecemos seu 1,88 imcompatíveis com o físico atarracado do herói nos quadrinhos. Vale também destacar a pequena porém simpática participação de Mercúrio (Evan Peters). Ele protagoniza uma das melhores cenas de ação do filme. Além de Mercúrio outros mutantes que ainda não tinham sido vistos na telona estão presentes como Bishop (Omar Sy), Blink (Bingbing Fan) e Warpath (Booboo Stewart). Grouxo, que na trilogia era interpretado por Ray Park (o Darth Maul de Star Wars: Episódio I), volta encarnado por Evan Jonigkeit. Elogiado desde que havia apenas fotos do filme, Dinklage rouba cada quadro em que aparece, o que já era esperado por quem acompanha o ator antes mesmo do fenômeno Game of Thrones. Gigante da interpretação, ele defende seu Bolívar Trask (que não é anão nos quadrinhos) com impressionante verdade, humanidade e galhardia.
A fotografia de Newton Thomas Sigel, colaborador constante de Singer é outro destaque. Na parte em que a trama concentra a ação nos anos 70, ele dá à película a textura e iluminação característica de produções daquele período em que o filme se passa como Operação França, Um Dia de Cão entre outros. Isso faz com que o espectador sinta a atmosfera da época. E aqueles que ficaram com água na boca quando viram a cabeça de Sentinela arrancada por Wolverine em O Confronto Final vão pular das cadeiras quando virem os robôs gigantes em ação pela primeira vez depois de 14 anos. A ausência dos robôs sempre foi sentida nos filmes. Em suma, a nova aventura mutante nos cinemas além de ser um dos melhores filmes de super heróis recentes, vai deixar todos ávidos por X-Men: Apocalipse, previsto para chegar aos cinemas em 2016.

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