Confesso que uma opinião sobre um filme que se passa na Itália, no meu caso, pode ser colocada sob suspeita. Minha paixão pelo país pode seriamente ofuscar o olhar crítico. A admiração pelo diretor da produção também não ajuda muito a manter uma postura imparcial, mas fica aqui a promessa sincera da tentativa.
“Para Roma, com amor”, como o próprio nome já diz é uma homenagem à Roma, a cidade eterna. Para quem não sabe, homenagear cidades é a especialidade de Woody Allen, diretor da trama. Ele já escreveu filmes sobre Nova Iorque, Tóquio, Barcelona e seu último longa do gênero, “Meia Noite em Paris”, foi grande sucesso de público e venceu o Oscar de melhor roteiro original no ano passado (embora Allen não ligue para premiações e nem tenha ido buscar a estatueta). Já houve boatos de que ele estaria planejando um roteiro cujo cenário fosse o Rio de Janeiro, mas até agora nada de concreto. Quem sabe um dia…
É importante ressaltar essa paixão do cineasta pelas grandes cidades para deixar claro que elas não são apenas locações para seus filmes, e sim as verdadeiras protagonistas. Em “Para Roma, com amor” não é diferente. A trama é composta de quatro histórias paralelas que tratam de amor, sonhos e dramas do ser humano, tudo em sintonia com um lugar que abrigou alguns dos maiores artistas de todos os tempos. E o que mais é a arte senão a concretização de ilusões, romance e todas as subjetividades humanas? A julgar pela temática, então, a produção é mais do que bem-sucedida. O desenvolvimento de duas dessas pequenas tramas, no entanto, deixa a desejar.
Uma dessas histórias que não agradam tanto é a protagonizada por Alec Baldwin, Ellen Page e Jesse Eisenberg. Nela, a personagem de Page, Monica, é uma jovem atriz, pseudo-intelectual, que encanta os homens pela filosofia de vida liberal e seu ar misterioso. Ela vai à Roma para visitar sua melhor amiga que está morando na cidade com o namorado, interpretado Eisenberg, que, como era de se esperar, se apaixona pela visitante. Baldwin aparece como uma espécie de alterego coletivo, que tenta alertar a todos sobre os riscos de entrar em uma aventura amorosa. Os elementos são bons, mas a química entre Page e Eisenberg deixa a desejar, tornando difícil para que o espectador realmente se envolva com os personagens.
A outra trama que deixa uma sensação de que falta alguma coisa é a que trata do caso de recém-casados vindos do interior que vão à Roma para que o noivo vá trabalhar na empresa de seus parentes mais abastados. Em seu primeiro dia na cidade, o casal deveria encontrar os novos chefes para tentar impressioná-los, mas uma série de confusões e desencontros fazem com que os dois experienciem situações inusitadas da vida na cidade grande. Como a anterior, o problema fica por conta da interação entre os atores que não convence muito.
Chegando a parte boa, a trama protagonizada por Roberto Benigni é interessante e entretém. Ele interpreta um homem comum de classe média que, de um dia para o outro, fica famoso sem motivo concreto. A dualidade sobre a angústia moderna entre querer se destacar da multidão, mas, ao mesmo tempo, sentir-se violado pela invasão de privacidade propiciada pela mídia e as redes sociais, é o tema central, contada de maneira leve e divertida.
O ponto alto mesmo, contudo, fica por conta do próprio Woody Allen. Ele interpreta Jerry, um diretor de ópera com pouco sucesso e já aposentado, que viaja à Roma para conhecer o noivo de sua filha. Chegando lá, ele conhece o futuro sogro da menina, Tim, um dono de uma funerária, mas com voz de tenor. Jerry vê nele uma última chance de fazer seu grande espetáculo. O que está em discussão aqui são as ironias da vida que, muitas vezes, teima em fazer talento e ambição se desencontrarem. Tim é um exímio canto lírico, mas está feliz com sua rotina simples, enquanto para Jerry faltou o talento para construir o hit que sempre sonhou. Uma temática leve, mas concebida e concretizada de forma extremamente divertida e encantadora.
Mesmo com altos e baixos, “Para Roma, com amor”, definitivamente é mais um com a marca de Woody Allen que vale a pena assistir. O filme consegue materializar toda a beleza, confusão e história que dão a Roma seu caráter único. É uma homenagem de Allen a uma cidade, ou melhor, um país, que faz parte do imaginário de quase todos os indivíduos seja pela culinária, pela arte ou pelo amor. É, valeu a tentativa, mas parece que aquela história de imparcialidade foi pro brejo. Mas se tratando de um povo apaixonado como o italiano, ser fria e distante seria o mesmo que não falar de Roma…
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