A atriz Deborah Secco esteve no Rio de Janeiro nesta segunda-feira (10) para participar de uma entrevista coletiva que aconteceu num hotel de Copacabana, Zona Sul da cidade, sobre o filme “Boa Sorte”, acompanhada da diretora Carolina Jabor e do co-roteirista Pedro Furtado. Na produção, Deborah interpreta Judite, uma mulher com Aids e viciada em drogas que vive um romance intenso com João (João Pedro Zappa), um jovem que ela conhece numa clínica de desintoxicação onde os dois estão internados. O filme também conta com as presenças de Fernanda Montenegro como Célia, avó da protagonista e usuária de maconha, Felipe Camargo e Gisele Fróes como os pais de João, além de Cássia Kis Magro, como a Dra. Lorena, responsável pelo local onde se passa boa parte da trama.
A atriz Deborah Secco teve que perder muitos quilos para viver a protagonista de “Boa Sorte” (Foto: Célio Silva)
Deborah revelou que ficou surpresa em saber que o índice de mortalidade entre os pacientes com Aids com 23 anos aumentou nos últimos meses e que o filme surge como um novo alerta contra a doença para os jovens. A atriz confessou ter perdido 11 quilos (ela pesa 55 atualmente) para a composição da personagem e que ficou internada no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo, um pouco mais de um mês depois do fim das filmagens. “A Judite ainda estava muito dentro de mim e foi muito difícil mandá-la embora. Eu trouxe muito dessa energia dela para mim e esse desapego das coisas básicas da vida, esses prazeres da vida (…) Realmente, eu estava muito apegada à morte. Então eu tive que desapegar dela!”, disse Deborah.
Para a diretora Carolina Jabor, um dos motivos de fazer o filme (inspirado no conto “Frontal com Fanta”, de Jorge Furtado) foi, além de mostrar uma história de amor que surge num momento inusitado da vida de uma pessoa, fazer uma crítica sobre o uso de drogas lícitas, já que, nos dias de hoje, qualquer problema que acontece com uma pessoa, já se recomenda o uso de remédios. A cineasta acredita que é preciso ‘segurar a onda’ e que os jovens precisam ser educados e que os pais precisam dar amor para evitar que os seus filhos acabem desenvolvendo comportamentos antissociais, como o que acontece com o personagem João. Tanto Carolina quanto Deborah acreditam que Judite acaba suprindo essa necessidade que João tinha e, ao mesmo tempo, recebe um afeto que ela nunca teve. Por isso, a atriz acredita que é por isso que os protagonistas mudam suas vidas a partir deste relacionamento e que isso fica evidenciado no fim do filme.
Carolina Jabor afirmou também que, para realizar “Boa Sorte”, pesquisou algumas clínicas de reabilitação voltadas para adolescentes e ficou surpresa em saber que o índice de alcoolismo entre os jovens cresceu 300% e que até a maconha pode fazer o jovem ter um surto, algo que ela achava só ser possível com drogas mais pesadas. Ela também elogiou a atuação de Cássia Kis Magro como a psiquiatra que representava, na verdade, a instituição mostrada no filme. Ela destacou a expressão da atriz na cena em que João confessa estar apaixonado por Judite. Questionada sobre os planos utilizados do filme, a diretora confessou ser fã do cinema francês e que não queria usar uma linguagem típica do cinema americano. Assim, ela se associou à diretora de fotografia Barbara Alvarez para criar enquadramentos mais simples, mas que servissem para contar a história da melhor maneira possível.
Deborah Secco acrescentou que, além da questão física, conheceu pacientes com Aids para compor a sua personagem e que teve vontade de lutar pela sua recuperação, mesmo sabendo que eles não tinham a menor chance, o que a deixou mais revoltada que os doentes. Ela também trabalhou João Pedro Zappa a relação entre os dois protagonistas para que a intimidade que os dois compartilham soasse verdadeira na tela. Carolina Jabor destacou a disposição de Deborah para se desconstruir e “receber” o espírito de Judite durante os ensaios, pois não queria fazer nada da mesma maneira que tinha feito até então. A atriz disse que não tinha pensado na morte, apesar de ter perdido uma irmã quando era mais nova, até entrar nesse projeto e percebeu que pode até morrer antes de pessoas com doenças graves como o câncer. Questionada sobre seu trabalho não só como atriz, mas também como produtora executiva de “Boa Sorte”, Deborah disse que já tinha adquirido alguma experiência nesta área quando estrelou “Bruna Surfistinha” em 2011. Para ela, isso é importante para que ela possa escolher melhor os papéis em projetos futuros para que o público a conheça melhor. “Eu acho que eu posso mostrar um pouco mais da artista que eu sou, o que eu quero ser. (…) Por isso, cada vez mais vou ter que produzir e escolher histórias e vou acabar trabalhando um pouco menos, porque um filme não acaba em um mês, mas é isso que eu quero para mim”, disse Deborah.
Pedro Furtado, filho de Jorge Furtado que ajudou com o pai no roteiro, acrescentou que contou com a ajuda do elenco (“um verdadeiro Dream Team”, segundo ele) e com a visão feminina da diretora. Para Pedro, que já atuou em filmes como “Houve uma vez dois verões” e na Paranovela “Mulheres Apaixonadas”, a experiência como ator o ajudou a escrever porque assim ele percebe quando as falas vão funcionar ou não. Além de co-escrever o texto de “Boa Sorte”, ele também foi o autor de roteiros de programas como “Um Pé de Quê”, do Futura. Mas não descartou a possibilidade de voltar a interpretar. Falando em interpretação, Carolina Jabor admitiu que recebeu várias ligações de Deborah Secco, que se mostrou muito interessada no projeto desde que ouviu falar dele. Ela disse que, quando Deborah fez as primeiras leituras do roteiro, teve certeza que ela seria a Judite ideal. Além disso, a paixão demonstrada pela atriz para o papel foi primordial para a escolha: “A determinação dela foi impressionante!”, destacou a diretora.
Sobre as cenas de nudez que teve que fazer no filme, Deborah Secco disse que sua personagem já estava tão fora de seu corpo físico que as roupas eram o que tinham de menos interessante nela. Ela confessou que, de todas as personagens que já interpretou, foi a única que gostaria de ter a sua companhia por um ano. “Ela é a mulher mais apaixonante que eu já fiz, na minha pior forma física!”, disse Deborah, que não via tanto a magreza quanto as outras pessoas. Além disso, ela fez um paralelo sobre ficar nua em “Boa Sorte” e em “Bruna Surfistinha”. Para Deborah, enquanto no filme em que viveu uma das garotas de programa mais conhecidas do Brasil, a nudez era para agredir, por ter que tirar a roupa para quem ela na verdade não queria. Já como Judite, se despir era algo mais natural, sem querer sensualizar. A atriz também admitiu que, após o filme, passou a dar mais valor a coisas que ela adiava por serem mais simples. Ela revelou que quer dar mais prioridade ao que lhe dá mais prazer, como mergulhar no mar, ver mais filmes, ler mais livros, entre outras atividades. “Eu morrer com menos dinheiro na minha conta, mas vou ser mais feliz!”, afirmou Deborah.
Após a entrevista, Deborah Secco gravou uma mensagem para os leitores do Ambrosia:
“Boa Sorte” estreia nos cinemas brasileiros no dia 20 de novembro.