A maioria (ou boa parte) dos fãs de “Duna” aprovaram o que viram no trailer da segunda adaptação do livro de Frank Herbert dirigida por Denis Villeneuve (“Blade Runner 2049”, “A Chegada”).
Mas o diretor Alejandro Jodorowsky, que levaria o clássico da ficção científica ao cinema pela primeira vez nos anos 70, mas teve o projeto cancelado, embora tenha elogiado a qualidade da produção, foi taxativo na revista francesa Premiere ao classificar como “previsível” o que aponta a prévia. Além disso, considera impossível fazer algo genial em um modelo industrial de cinema como o de Hollywood.
“Gostaria que seu Duna fosse um grande sucesso, porque Denis Villeneuve é um bom diretor, de quem muito me falaram. Eu vi o trailer. Está muito bem feito. Vemos que isso é cinema industrial, que há muito dinheiro e que custou muito dinheiro. Mas se fosse muito caro, deveria entregar na proporção. E este é o problema: não há surpresas. A forma é idêntica ao que se faz em todo lugar, a iluminação, a atuação, tudo é previsível.” O cinema industrial é incompatível com o cinema de autor. Para o primeiro, o dinheiro vem antes do trabalho. Para o segundo, é o contrário. E isso, qualquer que seja a qualidade de um diretor, seja o meu amigo Nicolas Winding Refn ou Denis Villeneuve. O cinema industrial promove o entretenimento, é um espetáculo que não pretende mudar a humanidade ou a sociedade.”
O cineasta também lembrou de como seria sua versão. “Não seria uma obra, mas um manifesto para penetrar na mente das pessoas e causar uma pandemia, mas que se volta para a vida e não para a morte como a que conhecemos hoje.” Ele acrescenta que os fãs de Duna esperam algo “profundo, complexo, literário, o que é perfeitamente impossível transcrever na duração clássica de um filme.”, ressaltando que sua adaptação iria durar 14 horas. “Digo a mim mesma que seu formato poderia finalmente ter se igualado ao de uma série contemporânea. Fazer de Duna um filme tradicional é condenar-se a oferecer um fragmento dele.”
O diretor alfineta a indústria cinematográfica de forma ainda mais incisiva quando diz: “Em segredo, eles falam, ‘Agora vamos fazer um grande filme que Jodorowsky não fez! E será fantástico! O diretor é um gênio.’ Exceto que ninguém pode ser um gênio em Hollywood. Ninguém. Porque é um negócio.”
A ambiciosa versão de Duna planejada por Jodorowsky teria no elenco como Mick Jagger, Orson Welles, Alain Delon e Salvador Dalí, além de trilha sonora composta pela banda Pink Floyd.(que por sinal tem uma música no trailer) e desenho de produção assinado por Moebius. As ricas artes conceituais foram recolhidas em um livro, e davam uma boa ideia do que seria visto. Duna de Jodorowsky está na lista dos filmes não realizados mais cultuados do cinema e ganhou um documentário em 2013. A primeira adaptação cinematográfica de Duna foi lançada em 1984, com direção de David Lynch.
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