No Brasil que até hoje discute se pode assistir um beijo gay em suas novelas, um filme que mostra beijos, carícias e sexo entre dois irmãos não tinha como passar em branco.
Do Começo Ao Fim, de Aluizio Abranches (Um Copo de Cólera), conta a história dos irmãos Francisco (João Gabriel Vasconcelos) e Thomás (Rafael Cardoso), que desde a infância (quando são interpretados por Lucas Cotrim e Gabriel Kaufman, respectivamente) estão ligados por um amor inabalável.
Filhos da médica Julieta (Júlia Lemmertz, em ótima performance), os meio-irmãos são criados por ela e pelo marido Alexandre (Fábio Assunção) num ambiente de aceitação. A intimidade da relação dos dois é questionada pelo pai de Francisco, mas embora Julieta se preocupe com os meninos, não acha certo dizer que amor é algo ruim.
O tempo passa, e após a morte da mãe os meninos ficam sozinhos em casa, onde a relação se consuma. Agora amantes, o laço que os une fica cada vez mais forte, até que Thomás é convidado para treinar para as olimpíadas na Rússia (ele é nadador, como o irmão e herói fora na infância), e a perspectiva da separação coloca o namoro entre os irmãos em cheque.
O maior acerto do filme é a leveza. Tanto a homossexualidade quanto o incesto aparecem de forma natural, como uma possibilidade dessa relação fraternal num ambiente libertário. A primeira questão é o livre arbítrio, e o que vemos é justamente isso: liberdade.
Num país falso moralista como o nosso, é interessante ver um filme gay onde ninguém se mata ou é morto, enlouquece ou é preso. É interessante ver o incesto como uma possibilidade, uma relação que só diz respeito aos envolvidos, sem grandes culpas e tragédias em família.
O erro é justamente aí, pois embora seja possível aceitar a postura amorosa da mãe dos meninos (e até acreditar que ele convenceu o pai deles a aceitar também…), fica difícil engolir que todo mundo pense assim. Falta algum drama nesse sentido, pois o fato de eles serem irmãos é a razão do filme (ou teríamos só uma história de amor entre dois homens, sem problema algum), mas a questão não é problematizada sequer no ambiente externo. Miraculosamente, o namoro entre os dois irmãos é aceito por todos, e isso, embora seja muito bonito, acaba enfraquecendo a história.
No fim das contas, o filme vale pela beleza, pelos ótimos atores e claro, pela audácia.
o filme nao vale sequer pela audacia.
Audacia teve Aleksandr Sokurov ao filmar, na mais conservadora ainda Russia de Vlad Putin, sua obra-prima minima: Pai & Filho
ou Luchino Visconti, em pleno retorno da Democracia Cristã Italiana, fazer As Vagas Estrelas da Ursa.
ou, no Brasil, Heitor Dahlia com seu adoravelmente pedofilo “À Deriva”, e seu perverso, sexista, fetichista, imundo, “Cheiro do Ralo”.
isso sim é cinema subversivo. Do Começo Ao Fim não passa de proselitismo viadistico do mais vagabundo…
Ainda sim, prefiro um proselitismo viadistico do mais vagabundo do que o medo de uma emissora de tv de mostrar um beijo entre dois homens.