Iain Smith, produtor executivo de “Mad Max: Estrada da Fúria”, esteve no Rio de Janeiro para o evento Geek & Game Rio Festival 2017. Natural de Glasgow, na Escócia, Smith tem um extenso currículo que inclui filmes como “O Quinto Elemento”, “Sete Anos no Tibet” e “Armadilha”. O produtor bateu um papo com a Revista Ambrosia, em que revela, além de histórias de “Estrada da Fúria”, que tem o sonho de produzir uma nova adaptação de “Gabriela” para o cinema.
Ambrosia: Sr. Smith, fale um pouco sobre o prazer e a dor de fazer um filme de grande orçamento
Iain Smith: Para fazer filmes é preciso duas coisas: talento e dinheiro. Imediatamente uma batalha entre arte e dinheiro. E o produtor vive no meio dessa batalha pois o dinheiro pode matar o filme. Você pode ter muito dinheiro e não se importar com nada ou ter muito pouco e tudo se torna um problema. O objetivo é encontrar um equilíbrio entre a arte e o dinheiro, o que faz um bom filme. Se você cuidar de tudo não será punido e, tendo dinheiro para executar o trabalho de maneira apropriada, você pode manter uma boa organização e um bom controle para permitir que o cineasta possa fazer o melhor trabalho.
A: Apesar de ser parte de uma grande franquia , “Estrada da Fúria” tem um espírito de filme independente. Ainda assim, foi um grande sucesso de bilheteria. Você esperava por algo tão grande?
IS: Sim, pois todo filme esperamos tenha o melhor desempenho (risos). Você nunca começa um filme pensando em ter um resultado meio que ok. Se proceder assim você está perdido. Como dizemos em inglês, creio que haja o similar em português “quanto mais duro é seu trabalho mais sortudo você será. É o que tenho a dizer sobre Mad Max, George (Miller, o diretor) planejou esse filme por vinte anos. Tentou desenterrar projeto duas vezes e fracassou em ambas. Então na terceira vez tivemos sorte, embarcamos, o que me leva a dizer que se tem um Deus no céu, ele sorriu para nós. E tivemos uma possante produção, com ótimas atuações e o filme foi muito bem. Você falou do espírito indie. Era exatamente o que queríamos, porque filmes de estúdio geralmente são lustrosos, é tipo “quem se importa?” Mas no filme indie você se importa. Você se importa com o Tom (Hardy), você se importa com a Charlize (Theron). E a ação é relevante. Na maioria dos filmes de estúdio não. às vezes sim, mas tem que ser feito por uma pessoa e não por um comitê.
A: E em relação ao Oscar? O filme saiu como o maior vencedor da noite
IS: Nós desejávamos de ter ganho Melhor Diretor e Melhor Filme, mas ficamos muito felizes de ganhar seis Oscars. Em toda a História da Warner, nós somos o terceiro filme com mais Oscars. É um grande êxito partindo desse ponto de vista. E o filme não foi um êxito só criativo, mas também uma conquista da parte técnica. Todos que levaram um Oscar naquela noite realmente mereceram. O designer de produção foi incrível, o figurino foi incrível. Foi um resultado final muito feliz.
A: Assistindo ao filme fica a impressão de que vocês tiveram uma liberdade ilimitada para realizar que queriam na parte criativa. Foi isso mesmo?
IS: Absolutamente. George e o corroteirista Nico Lathouris quando escreveram tinham em mente todo um mundo por trás do filme, que você nunca viu. É um cosmo. Há uma história pra tudo ali. Se alguém usava um insígnia, essa insígnia tinha uma história, e até uma espécie de língua associada. Isso particularmente ajudou muito aos atores e também aos designers a encontrarem uma linguagem para a história. Os caminhões, os carros, cada um tem sua história por trás. O War Rig, o maior, tem um longa história. Muitas coisas aconteceram a ele. Então o jeito como é desenhado e o conceito de funcionamento foram cuidadosamente elaborados. Parece um grande amontoado de metal, mas é como uma orquestra (risos).
A: E você se envolveu diretamente com a parte criativa?
IS: De certa forma. Meu trabalho era cuidar de George e assegurar que ele pudesse fazer o melhor. Então eu tinha que entender o que ele estava sonhando. Eu tinha que pegar seu sonho e converter para uma realidade física. Isso significa que você não é o criador, mas está honrando-o por entendê-lo, e cuidando do que é importante. Todo dia a tarefa é decidir o que é importante e o que não é. Não perder tempo com coisa que não tem importância. E dar muita atenção ao que importa, porque o público vai perceber isso. E George ficou muito feliz, e nos tornamos melhores amigos depois do filme.
A: Do ponto de vista de um produtor, o que você acha dessa tendência de recorrer a efeitos práticos combinados ao CGI?
IS: “Estrada da Fúria” é um bom exemplo por que fizemos o máximo de efeitos práticos que podíamos. A única coisa que George achou que não podia fazer eram os mastros. Mas Colin Gibson, designer de produção, inventou um jeito que podíamos fazer aquilo. Então resolvemos fazer de verdade. A gente dirigia pelo deserto e os dublês iam balançando no topo dos mastros surtindo um efeito incrível. Mas como produtor eu tinha que ser muito responsável em relação a coisas como eficiência, organização e também a integridade e segurança. E espantosamente, no filme, nós não tivemos nenhum acidente grave. apenas aqueles machucados e cortes normais entre os dublês, sabe? mas ninguém foi parar o hospital ou coisa do tipo, pois foi tudo bem organizado. E quanto mais organizado, mais criativo se pode ser.
A: Haveria algum desejo de produzir algo por aqui?
IS: Por muito tempo eu tive um sonho: fazer um remake de “Gabriela”, porque o filme com Sônia Braga e Marcello Mastroianni não era muito bom. É um livro incrível. Tudo que Jorge Amado escreve é incrível. É o Shakespeare do Brasil. Eu sonho com esse projeto. Me assombra como um fantasma (risos). Como Gabriela cantando para mim (risos). Eu adoro a ideia de a comida causar transformação não apenas um homem mas em toda uma cidade. Nós precisamos disso em nossas vidas e o mundo agora precisa mais do que nunca. Precisamos mudar.