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Entrevista: O diretor francês Thomas Cailey fala sobre seu primeiro longa-metragem “Amor à primeira briga”

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O filme “Amor à primeira briga” tem o poder de surpreender e cativar o público aos poucos, com o mérito de conseguir fugir completamente dos clichês e dos estereótipos do cinema tradicional. O primeiro longa-metragem do diretor francês Thomas Cailey, “Amor à primeira briga” já tem em seu currículo um feito inédito: foi o primeiro filme a ganhar os três prêmios da mostra Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes 2014, incluindo o de melhor filme.  A produção francesa estreou na semana passada nos cinemas de São Paulo e Brasília e terá a sua estreia nos cinemas do Rio de Janeiro nesta próxima quinta-feira.

O roteiro da produção é assinado pelo próprio diretor Thomas Cailey e por Claude Le Pape. A trama gira em torno do improvável romance entre dois jovens com visões de mundo completamente diferentes: Madeleine Beaulieu (Adèle Haenel) e Arnaud Labrède (Kévin Azaïs).

Madeleine é uma jovem rica, possuidora de uma beleza rústica e de um temperamento muito difícil. Ela é formada em Macroeconomia e acredita que o atual modelo de sociedade está com os dias contados. Madeleine deseja se alistar no Exército para ter acesso ao treinamento de sobrevivência para aprender a lidar com um futuro incerto.

Já Arnaud é um jovem amigável, inteligente e pacato, que após o falecimento do pai precisa ajudar a mãe e o irmão mais velho a cuidar dos negócios da família. Por força do destino, Arnaud é contratado para realizar um trabalho na casa de Madeleine e assim nasce uma amizade (e mais tarde um romance) entre os dois.

Apaixonado por Madeleine, Arnaud decide também se alistar no Exército para ficar mais próximo dela. A partir daí, várias situações testam os limites de ambos, vencendo suas resistências e provocando consequências inesperadas.

Mesmo não sendo uma comédia romântica, “Amor à primeira briga” traz um olhar sutil e delicado (algumas vezes até sarcástica) mesmo nas cenas mais intensas. Acompanhe a seguir a entrevista exclusiva realizada pela repórter Úrsula Neves, da Revista Digital Ambrosia, com o diretor Thomas Cailey. O jovem e talentoso cineasta esteve aqui no Brasil para divulgar o filme no mês passado. A entrevista foi realizada no Consulado da França, no Centro do Rio de Janeiro.

Ambrosia: Como surgiu a ideia do filme “Amor à primeira briga“?

Thomas Cailey: Eu cresci em Aquitânia, na França. Um pacato lugarejo no interior que com frequência é golpeada (favor mudar para golpeado) por tempestades no inverno e por queimadas no verão. Este foi de fato o meu ponto de partida: a ideia de um lugar tranquilo, calmo, que é atingida (favor mudar para atingido) por um tufão. Este tipo de colisão, o choque de dois elementos opostos, era o que eu imaginava para os personagens Arnaud e Madeleine. A partir daí, eu imaginava a jornada desses dois personagens diametralmente opostos, que se reúnem e ultrapassam os limites da possibilidade.

Ambrosia: Você classificaria o filme como uma comédia-romântica?

Thomas Cailey: O filme procurou retratar a viagem dos dois personagens, eu não queria fazer um filme monocromático. Então ele começa como uma comédia romântica, e depois disso, torna-se um longa de aventura, que no final se transforma em uma trama de ação e um filme de ficção científica. Em paralelo a isso, os dois personagens experimentam muitas coisas, se aproximam, crescem. Este é o mais importante para mim: é uma história de amadurecimento.

Ambrosia: Quanto tempo levou entre escrever e começar a produzir o filme? E as gravações?

Thomas Cailey: Foram 18 meses para escrever o roteiro, quatro meses para captação de recursos e sete semanas para filmar as cenas. Com todo o trabalho de pós-produção, levou três anos para produzir o filme.

Ambrosia: Como foi a convivência no set de filmagem com os atores? As cenas na floresta deram muito trabalho? Onde elas foram filmadas?

Thomas Cailey: Muito bom e muito instintiva. Adele Haenel e Kevin Azais são excelentes atores. Além disso, eles são atores físicos: eles dão tudo, sem se proteger. Eu tinha a confiança neles e eles em mim. Queria personagens fortes que infundissem a história com a sua energia. Decidimos rodar o filme cronologicamente. Foi uma filmagem muito intensa: eles correm, lutar, passar muito tempo em água fria. Ainda bem que tanto Kevin e Adele são atletas excepcionais.

Ambrosia: Qual foi a maior dificuldade que a equipe teve ao longo da produção do filme?

Thomas Cailey: Estávamos sempre em movimento: três cenas por dia, durante sete semanas. Foi muito cansativo e difícil de organizar.

Ambrosia: Você gostou do resultado final? Faria alguma coisa diferente?

Thomas Cailey: Na verdade, sim. Estou realmente feliz com o filme. Queria que meu filme fosse um caráter impulsionado história, e isso é o que é. Agora olho para a frente, não vou me torturar com arrependimentos.

Ambrosia: A realidade dos jovens no França está tão preocupante assim como o filme mostra em algumas cenas?

Thomas Cailey: A França está em crise, é um momento difícil para os jovens encontrar um emprego. Esta é uma geração que cresceu com a ideia de crise, de «acabar» tudo (emprego, a camada de ozônio, urso polar etc.) e vivem uma situação muito paradoxal. Por um lado, eles são instruídos a ser feliz, para tornar-se a si mesmos. Por outro lado, eles são lembrados de que não há lugar para eles na sociedade. Há um mal-estar social e existencial nos jovens na França. Assim, cada um inventa suas soluções: alguns pensam de ir para o exterior (Canadá, como Victor, o amigo do Arnaud), outros querem se juntar ao exército, como Madeleine, para se preparar para o apocalipse … não Arnaud não sei, ele não espera que aconteça qualquer coisa. E isso faz com que ele seja livre para tentar um monte de coisas, incluindo cair de amor com uma das garotas mais hostis do mundo.

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