Nunca uma polêmica do mundo cinematográfico teve tanta repercussão internacional – e esteve a ponto de causar uma crise diplomática e talvez até uma Terceira Guerra Mundial. Em tempos de WikiLeaks e zero de privacidade na rede, não é de se espantar que os arquivos dos estúdios Sony tenham sido invadidos. A reação ao que foi encontrado, isso sim, foi inesperada, assustadora e, por fim, muito benéfica.
A premissa é muito boa: Aaron Rapoport (Seth Rogen) é o produtor de um programa fútil de televisão, e decide mostrar sua seriedade como jornalista conseguindo uma entrevista com o presidente da Coreia do Norte, Kim Jong-Un. Ele e o apresentador do programa, Dave Skylark (James Franco) recebem permissão para ficar 24 horas na Coreia do Norte, tempo mais que suficiente para fazer a entrevista. E quem fica muito animado com esse inédito furo de reportagem é a CIA, que procura os dois repórteres para uma missão: envenenar Kim Jong-Un.
Há a clássica montagem das exóticas comidas orientais (aquilo era um rato ou uma arraia na chapa?), as excentricidades do ditador (quem não gosta de Katy Perry e margaritas?), um montão de fucks, breve nudez e uma dose de humor sexual.
Os memes não perdoam
O maior problema do filme, para os norte-coreanos manipuladores fanáticos, não é a ideia de envenenar, assassinar ou explodir seu ditador, mas sim de mostrá-lo como uma pessoa comum, e não um deus. Em uma mistura de “Borat” (2006) e “O Grande Ditador” (1940), com algumas gotas do sangue de Tarantino, o que temos é uma alternância de estados em Kim Jong-Un (de perigosíssimo a digno de pena) e também um grande discurso sobre o poder da imprensa, que nesta ficção instala um caos maior que o Watergate.
Depois de ameaças de ataques terroristas nos cinemas em que o filme fosse exibido, até o presidente Barack Obama se manifestou… e foi chamado de macaco. A Sony hesitou, mas acabou lançando o filme para compra online e também em alguns poucos cinemas. Então, filas se formaram em frente a essas seletas salas de cinema, dezenas de cópias piratas começaram a circular pela internet e os servidores ficaram sobrecarregados. Em quatro dias de exibição, o filme teve nota média 9,8 no site IMDb, o que o coloca como o mais alto em todo o ranking do site.
Talvez tenha sido mesmo um hacker que viu o tiro sair pela culatra e, ao invés de cancelar o filme, tornou-lhe muito mais interessante aos olhos do público. Talvez tenha sido essa adrenalina de ver um filme “proibido” que o transformou em sucesso absoluto, arrecadando mais de 15 milhões de dólares. Talvez tudo isso tenha sido uma imensa jogada de marketing que tomou proporções absurdas. Mas, de repente, uma comédia mediana e esquecível se transformou no filme mais esperado do ano, capaz de exaltar os ânimos e originar os mais diversos debates sobre imprensa, humor, sátira e liberdade de expressão.
Dave Skylark chega a comentar: em dez anos farão um filme sobre essa entrevista! O mais provável (e até mais interessante) seria fazer um filme sobre os bastidores e as consequências da maior crise da história da Sony – e que acabou gerando seu maior êxito.
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