Xavier Dolan é um jovem diretor que já pode ser representado por uma identidade. E ela fica clara a cada novo filme. Basicamente, sua identidade é a inquietação – humanista, estética e discursiva – o que até o exime de certo ranço pretensioso que carrega em si. Mommy, seu novo longa, responsável pela honraria de ser premiado como melhor diretor em Cannes, dividindo a Palma de Ouro com Godard, é um exercício maduro e sensível do fazer cinema nessa geração.
A história é um trabalho orgânico que entrelaça três seres inadequados – dentre eles uma mãe e um filho inadequados dentro de suas própria relações. Steve (Antoine-Olivier Pilon, um furor de ator) é um adolescente nas raias da impulsividade e da fúria, que volta para casa após sua (permissiva) mãe, Diane (Anne Dorval, maravilhosa atriz fetiche de Dolan), que tenta conviver com a situação do filho, Participando dessa jornada de auto conhecimento mútuo, está a vizinha, entre o misteriosa e discreto, Kyla (Suzanne Clément) que passa a fazer daquela vida conjunta, o ápice da sua.
Dolan tem algumas fixações frequentes em seus filmes e a mais salutar delas é a relação materna, sempre bem extravagante (como todo o seu cinema aliás!). Mas o que ele consegue em Mommy é solidificar sua fixação temática para um cinema mais humano do que propriamente estético, como foram seus primeiros (bons) filmes.
A construção e curvas dramáticas de seus personagens trazem densidade ao roteiro, para além de seus estilismos, que aqui cabem perfeitamente. Dolan “doura a pílula” com destreza fotográfica, uso desmedido de trilha sonora (outro ponto alto da projeção) e uma direção de atores de veterano. Trata-se de seu melhor filme, muito pelo acabamento humano que envolve sua aparente histeria. Histeria essa, que cada dia mais traduz o intuito de seu cinema: ser apaixonante pelo recorte extremado. Que venham novas histerias dessas…
A fixação estética e estilística do diretor após Laurence dava um “q” enorme de pretensão. :p