Robert De Niro completou 70 anos em agosto de 2013. Em sua longa carreira, ele alternou grandes momentos com personagens marcantes, como o Travis Bickle de “Taxi Driver”, o Tony LaMotta de “Touro Indomável”, o Louis Cyphre de “Coração Satânico” ou o Max Cady de “Cabo do Medo”. Mas os tipos que mais se destacaram em suas interpretações foram os mafiosos, em particular o jovem Don Corleone em “O Poderoso Chefão – Parte II”, o Noodles de “Era Uma Vez na América”, o Jimmy Hill de “Os Bons Companheiros” e até mesmo o Paul Vitti no cômico “Máfia no Divã” (e a fraca continuação “A Máfia Volta ao Divã”) . Por isso, não parece estranho de que no ano de seu 70° aniversário seja lançado um filme que faça uma espécie de reverência ao que De Niro fez no passado como a comédia “A Família” (“The Family” ou “Malavita”).
Na trama, De Niro vive Giovanni Manzoni, um ex-chefe mafioso de Nova York que decidiu entregar para a Polícia o nome de seus antigos companheiros, o que causou a prisão de Don Luchese (Stan Carp). Por causa disso, sua cabeça é colocada a prêmio e ele teve que colocar sua família toda no programa de proteção a testemunhas do FBI e fugir do país. Depois de quase serem mortos no sul da França, Giovanni, a esposa Maggie (Michelle Pfeiffer, ainda belíssima) e os filhos Warren (John D’Leo, que lembra De Niro quando mais jovem) e Belle (Diana Agron, de “Glee” e “Eu sou o Número Quatro”) se mudam para uma pequena cidade na Normandia. Adotando a identidade do escritor Fred Blake, ele tenta se adaptar à sua nova vida, assim como o resto de sua família, sempre sendo observado pelo agente do FBI Robert Stansfield (Tommy Lee Jones) e sua equipe. O problema é que, acostumados a resolver seus problemas na base da intimidação, não demora para que eles acabem perdendo o controle e passem a usar seus métodos pouco convencionais com os habitantes da cidade, o que pode deixá-los na mira de seus perseguidores.
O diretor Luc Besson (que também assina o roteiro ao lado de Michael Caleo), depois de fazer um trabalho apenas bom com o drama “Além da Liberdade”, volta ao gênero de ação, onde se sente bem mais confortável. Além disso, ele mostra talento para fazer cenas cômicas com os personagens, ainda que com um certo humor negro em alguns momentos. O cineasta sabe como trabalhar com os seus atores que, mesmo não tendo grandes atuações (embora Diana Agron e John D’Leo surpreendam com seus personagens), dão conta do recado. Além disso, Besson conta com uma ótima fotografia, realizada pelo seu colaborador habitual, Thierry Arbogast.
Apesar de alguns furos e falta de um maior desenvolvimento de alguns personagens, “A Família” diverte, especialmente em algumas sequências, como as que mostra a maneira como Fred/Giovanni cuida de um encanador espertinho e de um executivo metido a durão, além das cenas que têm como ênfase o temperamento literalmente explosivo de Maggie, as com Warren aplicando diversos golpes dentro da escola e descobrindo os segredos de alguns alunos, e naquelas onde Belle, apesar do nome, se revela uma verdadeira fera. Alguns tipos, como o vizinho curioso, o presidente do cineclube da cidade e os agentes do FBI que ficam de tocaia e já estão bastante íntimos de Maggie também merecem destaque. Pena que Tommy Lee Jones não tenha muito o que fazer, já que seu Robert Stansfield lembre muito personagens que já interpretou em outros filmes.
Mas a melhor e mais engraçada parte do filme envolve o ex-mafioso, seu protetor agente do FBI e… Martin Scorsese!!! O diretor de alguns dos melhores filmes da carreira de De Niro, além de produtor executivo de “A Família”, também é lembrado na trama e, embora não apareça, acaba se tornando uma peça importante na história. É uma pena que, na parte final, Luc Besson deixe a sutileza e o humor negro de lado e se concentre em fazer um desfecho mais preocupado com tiros e explosões do que criar algo mais original. Mas não chega a estragar por completo a diversão que “A Família” promove ao espectador, especialmente se ele for fã de filmes envolvendo a máfia. No fim, fica uma boa homenagem ao excelente ator que é Robert De Niro, mesmo quando ele nos decepciona com seu trabalho em produções de gosto duvidoso nos últimos anos.
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