Uma família que vive de trazer contrabando do Paraguai e vender nas ruas da grande São Paulo se vê em débito com um agiota quando perde toda a sua mercadoria para a fiscalização num só dia. Com dívidas e aviso de despejo batendo à porta, sem nenhuma esperança de conseguir levantar o dinheiro em tem hábil trabalhando, Ariclenes (Lima Duarte) e Cida (Vera Holtz) decidem que sua filha, Lindinha (Marisol Ribeiro) deve ser ternar uma escort como a filha de outro casal de vizinhos (confundindo o trabalho de garota de programa com o de hostess). Webster (Robson Nunes), o filho evangélico, não aceita que sua irmã se prostitua e então convence a família de que a melhor – e mais digna – saída é armar um golpe da barriga com lindinha em cima do grande cantor popular do momento, Ivan Carlos (Caco Ciocler).
Alain Fresnot, diretor de filmes bastante opostos como a comédia Ed Mort (1996) e o drama histórico Desmundo (2003), criou uma comédia politicamente incorreta – porém, não muito distante de uma das tantas realidades brasileiras – sobre a classe C num país ainda muito dividido sobre como abordar assuntos cabeludos. Muitos pensarão tratar-se de um filme explorador e preconceituoso, enquanto outros vão rir bastante com alguns estereótipos reconhecíveis, pois como bem notou nossa resenha anterior do filme, o golpe é bem parecido com os de Maria-Chuteiras e o astro Ivan Cardoso parece uma cópia escarrada de Latino, tanto em seus visual, músicas e na vida pessoal (o cantor, inclusive, participa do filme como consultor e faz uma ponta).
Esquivando-me de julgamentos morais – afinal, o longa não conquistou a crítica, mas venceu o grande prêmio do juri popular no Cine PE – vejo aqui um filme com boas idéias cômicas, mas que se perde no rítmo e no tom, fazendo o espectador por vezes pensar que tudo se tornará um drama no meio da projeção.
Apesar de boas atuações de Lima Duarte, Vera Holtz e, especialmente, Caco Ciocler, que se reinventa e convence no papel do cantor de xique (um fictício sub-forró-brega, que poderia muito bem existir), Família Vende Tudo muitas vezes se parece com o núcleo pobre de uma novela imprópria para nossos canais de televisão e o diretor não se decide se enfia o pé e acelera na sátira desenfreada ou se abraça aquele universoe tenta entendê-lo (depois de tê-lo exposto nu e cru).
O roteiro corajoso, popularesco e que poderia ser engraçado se perde totalmente em diálogos fraquíssimos, cenas desnecessárias e uma atriz jovem que precisava ser o agente catalisador de tudo, a fraquíssima Marisol Ribeiro, que não segura a onda. Luana Piovani, que nunca convenceu como atriz, faz uma participação boa e controlada como Jennifer, a esposa compreensível de Ciocler. Não fosse pelo estereótipo, poderia ser a Lindinha marcante que o filme necessitava.
O golpe final são os últimos e detestáveis 10 minutos do filme, onde qualquer ousadia é jogada no lixo. O filme evoca uma outra boa comédia que coloca família de classe média baixa em situações absurdas e muitas vezes degradantes, O Que Eu Fiz Para Merecer Isto, de Pedro Almodóvar. Fresnot parece ter uma boa idéia do que quer, mas ao contrário do espanhol, não sabe exatamente como chegar lá.
Nota:
Título: Família Vende Tudo
Duração: 89 min
Ano: 2011
País: Brasil
Direção: Alain Fresnot