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“Febre do Rato” é a prova de que Cláudio Assis ainda sabe provocar…

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Em seu terceiro filme, o diretor Cláudio Assis confirma e consegue uma façanha que poucos cineastas brasileiros ousaram ter: prestígio pela marca da autoralidade. Seus filmes são estandartes de sua visão de mundo, e todos facilmente reconhecem essa identificação e dificilmente saem indiferentes aos extremos que Assis expõe na tela. Febre do Rato é isso: mais uma alegoria incômoda, sob a aridez urbana de um Recife que não deixa de ser idealizado, como muitos se enganam ao afirmar, apenas é retratado pelo realismo colérico do diretor.

A história acompanha Zizo (Irandhir Santos, com a competência de sempre), um poeta marginal e libertário da grande Recife. Ele publica o tabloide anarquista que dá nome ao filme, escreve poesia para os amigos – como o casal Pazinho (Mateus Nachtergaele, ator fetiche de Assis) e a travesti Vanessa (Tânia Moreno) – e faz sexo com Stellamaris (Maria Gladys) e Anja (Conceição Camaroti), mulheres distantes dos padrões de beleza impostos pelo audiovisual. Sua vida começa a confundir-se com seus poemas, quando encontra com Eneida (Nanda Costa), jovem de espírito livre que resiste às suas investidas e mexe com sua vaidade.

A produção mantém a verve do diretor em jogar luz sobre aquilo que entendemos como ordinário num contexto social. A fotografia de Walter Carvalho enverniza a sujeira estética que o diretor usa como elemento discursivo de seu contexto. Ainda que o roteiro padeça em algum momento de excessiva ingenuidade (!), é um filme notável. Isso se dá principalmente pela “romanticalização” da qual o roteiro passa para imprimir a propriedade intelectual de seu protagonista. Claro que o filme tem direito de dar a seu herói um interesse romântico, porém é quando o roteiro quer dar humanidade a seu protagonista que o longa mais perde força.

Mas nada que diminua a sina do realizador em fazer relevante sua visão de mundo pela ótica expressiva de seu cinema. Afinal, é pela sétima arte que Cláudio melhor se expõe (fora dela, dá vexames injustificáveis como aquele em que deu piti ao perder um prêmio para Carandiru, de Hector Babenco) e isso fica claro quando saímos do cinema digerindo lentamente as ideias e as provocações que fazem de sua arte uma das mais provocantes de nosso cinema moderno.

[xrr rating=4/5]

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