A figura materna na ficção é imbatível. Como errar com uma trama girando em torno da matriarca? Da comédia (como “Minha Mãe é uma Peça”) ao drama, o amor de mãe, a reboque de seus trejeitos, manias, excesso de zelo sempre renderão pano para manga. E é o que se vê em “Pérola”, o segundo longa do ator Murilo Benício na cadeira de diretor.
O roteiro é baseado no texto para o teatro escrito por Mauro Rasi. A trama acompanha história de Pérola, uma mãe de família pelo olhar de seu filho. Logo após saber da morte da mãe, Mauro retorna à sua antiga casa, em Bauru. Essa viagem traz a lembrança de diversos momentos em família do passado. Sempre com Pérola como figura convergente, expondo suas ilusões, seu senso de humor, sua espirituosidade, e um desejo exagerado de querer controlar tudo à sua volta.
É uma história autobiográfica de Rasi que Murilo procurou se apropriar. Há pontos em comum na trajetória que fez com que o diretor (que perdeu a mãe em 2012) se identificasse. Daí o carinho com que dirige Drica Moraes, reluzente no papel da matriarca. A afetividade com que o cineasta trabalha a trama remete a “Roma”, de Alfonso Cuarón.
O bom gosto da produção é latente, no entanto, o roteiro peca por se arrastar demasiadamente no terceiro ato. A conclusão poderia ser mais sucinta, e fica aquela incômoda sensação de que o filme desperdiça algumas chances de terminar satisfatoriamente.
Um outro problema está na questão cronológica da narrativa. A reconstituição de época é eficaz, mas comete deslizes na precisão ao retratar um ano específico. Por exemplo, em 1988 vemos um modelo TV dos anos 90, assim como no que parece ser 1990 a câmera enquadra um CD player de carro que só seria comercializado dali a uns 6 anos. Talvez as idas e vindas da estrutura não linear do roteiro (um recurso interessante, mas seu uso aqui acaba tornando o filme confuso) tenha afetado o departamento de arte.
No mais, “Pérola” cumpre com sua proposta de, além de homenagear todas a figura tradicional da mãe (poderia ser um longa lançado em maio) proporcionar uma viagem nostálgica, um refúgio sempre bem-vindo quando a face mais azeda do presente começa a renitir.
Comente!