Já é sabido como se dá a fórmula (batida) das cinebiografias musicais. Começa com o sonho da fama, a ralação para atingi-lo, o sucesso, os problemas que vêm a reboque (drogas, golpes de empresário, aproveitadores ao redor), fundo do poço e volta por cima. Ou quando se trata de uma carreira muito extensa, focar em um período da vida da pessoa biografada, muitos optam pelo início, por conter mais curiosidades como a vida pouco antes da fama e a transformação da pessoa comum na estrela que se conhece. “Meu Nome é Gal” parece seguir esse caminho, trazendo ao público a sua iniciação como cantora até despontar como uma das melhores cantoras do Brasil.
O longa mostra parte da trajetória de Maria da Graça Costa Penna Burgos, uma garota tímida que já sabia desde muito cedo que a música iria guiar seus caminhos. Apenas não tinha exata noção de como isso se daria. Aos 20 anos decide viajar rumo ao Rio de Janeiro para se tornar cantora. Lá, encontra seus amigos da Bahia: Caetano Veloso, Maria Bethânia, Gilberto Gil e Dedé Gadelha, que serão seus mentores nesses primeiros passos na carreira musical no final da década de 1960.
O que acontece de fato nesse longa é que Gal Costa foi esquecida, apesar de estar o tempo todo em cena. A sensação que se tem é que Gal é observadora passiva de sua própria história, como se os fatos a sua volta tivessem mais relevância do que sua jornada. Em alguns momentos o espectador pode até se indagar se não estaria assistindo a uma cinebiografia de Caetano Veloso. Ainda que se apregoe que a história de Gracinha (como era conhecida pelos amigos) tenha se dado à sombra do tropicalista, é um equívoco que o filme reforce isso. Ela apenas vai manifestar (algum) protagonismo no terço final, e ainda assim, sem o devido impacto.
A direção de Dandara Ferreira e Lô Politi (que também assina o roteiro junto com Maíra Buhler e Mirna Nogueira) busca reproduzir o espírito da época, com uma fotografia que remete a imagens de arquivo do período (imagens que eventualmente são inseridas na trama de modo até bastante fluido) e uma cuidadosa direção de arte e figurinos. As cenas de sarau em casa são bastante divertidas, assim como as que mostram as gravações em estúdio. Mas tudo vai perdendo a força a medida que se constata que a protagonista não foi construída como locomotiva da história. A persona Gal Costa vai sendo moldada a revelia da própria, que apenas diz se concorda ou discorda, e isso parece não fazer muita diferença. As músicas, de fato, eram compostas por seus amigos Caetano e Gil, mas não se dá ênfase ao fato da interpretação da cantora ser fundamental para a pujança dessas canções.
Sophie Charlotte se esforça para driblar o fato de não ser muito parecida com a cantora. Cortes de cabelo, gestual, figurino, até ajudam, mas como a fraca construção da personagem no roteiro compromete o empenho da atriz. Os coadjuvantes sofrem ainda mais com a falta de semelhança com suas versões da vida real, com a exceção de Caetano. Ok, a história não é sobre eles, mas não custava encontrar atores que ao menos os lembrassem. Outra fragilidade do script está em não saber em determinados momentos se mira no momento político do país, que acabou levando Caetano e Gil ao exílio, ou o crescimento de Gal como cantora.
“Meu Nome é Gal”, que seria uma homenagem à cantora, e devido à sua morte repentina se tornou um tributo póstumo, acabou por não fazer jus à grandeza de Gal Costa, mesmo que em se tratando do início de sua carreira. Se há algo que faça de fato valer transpor a história desse grande nome da MPB para as telonas são os números musicais (nos quais Sophie é bastante convincente), mas isso não é o bastante para tornar o longa memorável. Gal merece mais.
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