Fundador dos Rolling Stones, Brian Jones é uma das figuras mais míticas do rock, não só por personificar a tríade sexo, drogas e rock n’ roll como pelo fato de ter sido o líder silencioso da maior banda de rock do mundo. Há diversos documentários, biografias e até uma cinebiografia “Stoned – A História Secreta dos Rolling Stones”, mas “Brian Jones e os Rolling Stones” se propõe a ser o registro documental definitivo.
O intuito é examinar a criatividade musical de Jones, enxergado por muitos como o segredo do sucesso da banda, através de entrevistas sinceras com todos os artistas essenciais e arquivos inéditos. Brian estava no auge do sucesso quando foi encontrado morto na piscina de sua casa em 1969, fato que gera controvérsia e teorias de conspiração até hoje.
O documentário aborda também as inevitáveis rivalidades dentro do conjunto nesses anos iniciais, que se intensificaram à medida que Mick Jagger e Keith Richards começaram a compor proficuamente e o próprio empresário que assumiu a banda, Andrew Loog Oldham, teria contribuído para que os holofotes se concentrassem na dupla. Jones sintetizava a liberdade iconoclasta e a exuberância dos anos 1960 — um período de conflito intergeracional e turbulência sexual que reflete no que vivemos hoje. Sua fama de rebelde, além do talento inventivo com a guitarra conquistava admiradores, inclusive no meio musical. Mas, aos poucos, foi sendo colocado como coadjuvante na banda que ele mesmo fundou.
A produção vai além de reforçar a ideia de que os Rolling Stones eram mais interessantes quando Jones estava à frente, ou de como ele era genial, embora seu talento indiscutível seja uma das pautas principais. Seu conflito com o pai, a quem o músico queria agradar, mas ao mesmo tempo escolheu para sua vida um caminho completamente distinto do que o progenitor sonhava, é colocado como a espinha dorsal do roteiro. O longa explora essa inadequação que o guitarrista sofria, e que o afetou dentro da própria banda.
Quando era um estudante de 14 anos, Nick Broomfield conheceu Brian Jones, por acaso, em um trem. O grande acerto do diretor foi justamente propor um raio-x da figura da qual só se costuma divulgar as histórias icônicas. Há depoimentos de ex-namoradas (inclusive a vida amorosa do stone era bastante movimentada além de complicada) e colegas como Eric Burdon do The Animals.
Dos Stones apenas Bill Wyman aparece dando entrevista nos dias atuais. Jagger, Richards e Charlie Watts aparecem apenas em áudio e arquivo. Isso evidencia o mal-estar que ainda paira na banda mesmo passados 55 anos de sua morte. Fica a impressão que, ao contrário do que aconteceu com Syd Barrett no Pink Floyd, que foi expulso da própria banda de forma bastante semelhante, havia como salvar Jones e recolocá-lo nos trilhos.
Assim como seus ex-parceiros de banda, as faixas dos Stones não aparecem no filme, apenas as que eram versões, com exceção de ‘Satisfaction’. Fãs podem sentir falta de mais sobre seu processo de composição, episódios no estúdio, como a de quando ficou contrariado com a decisão de fazer um álbum psicodélico pegando carona no “Sgt Pepper’s” dos Beatles (as pessoas acreditam que a ideia era dele, mas era Jagger quem queria dar a guinada viajante, enquanto Jones preferia voltar ao blues rock do início). “Brian Jones e os Rolling Stones” é um dossiê bastante acertado de um dos personagens mais emblemático do rock, que aborda o que ficou de fora dos documentários oficiais dos Stones.