Festival do Rio: 500 dias com ela

five_hundred_days_of_summer500 dias com ela (500 days of Summer) é o primeiro filme de Marc Webb e narra a história de Tom (Joseph Gordon-Levitt), um jovem de New Jersey formado em arquitetura que trabalha em Los Angeles para uma empresa de cartões comemorativos. De criação ingênua, Tom possui crenças profundas no que diz respeito ao amor verdadeiro e almas gêmeas, assim como outros conceitos do mesmo “calibre”. Sua vida é transformada ao encontrar com Summer (Zooey Deschanel), que vai trabalhar em seu escritório. Os gostos e o jeito da garota o fazem, naturalmente, se apaixonar pela mesma, entretanto, ao contrário de Tom, Summer foi criada por uma família disfuncional que a fez desde cedo não acreditar em relacionamentos. O filme se passa nos 500 dias desde que Tom conheceu Summer e os conflitos gerados a partir daí. Nada de particularmente original na trama.

O interessante está nos detalhes, no clima e por que não nos recursos narrativos empregados na produção. O primeiro e talvez o grande destaque sejam as músicas, que muitos meses antes do lançamento do filme, foram recebidos como um terceiro protagonista do filme. A sua trilha sonora foi até mesmo comentada aqui na época por JR Dib em seu “Movie Tunes”, e de fato musicalmente (como é típico da maioria dos filmes Indies) é impecável, principalmente pela mesma estar completamente envolvida com a história.

Logo na abertura somos agraciados com “Us” de Regina Spektor, belíssima canção em voz e piano enquanto vemos em frame recortado os momentos de infância dos protagonistas, uma sensação  arrebatadora (pelo menos para mim que tenho uma certa angústia com a melodia dessa música) que vai tomar àqueles simpáticos a música durante todo o filme. Summer é o tipo de garota que é viciada em Belle e Sebastian, inclusive citando a banda no seu memorial de formatura e que com facilidade encanta a todos ao seu redor. Tom finalmente ganha a oportunidade de falar com Summer pela primeira vez, por estar ouvindo The Smiths (a fabulosa triste e perfeita canção “There is a light that never goes out”) e daí em diante. A música é quase um personagem a parte no filme, e não há coisa ruim no repertório que também conta com Carla Bruni,  Black Lips, Jack Penate, Pixies entre outros…

500-days1O filme é estruturado em cima dos 500 dias do título, intercalando várias datas diferentes entre este período, passando a impressão de que o protagonista está diante de um álbum de fotos e que estamos convidados a olhá-las. A transição entre as cenas (indicando o dia x em que a mesma se passa) é bastante funcional, e estruturalmente muito clara, é muito fácil estabelecer padrões para o relacionamento dos dois através do momento que eles estão vivendo. Que grupos de dias foram positivos e quais não foram. Esse sentimento de observação é reforçado pela presença de um narrador, que as vezes até soa um pouco pedante, mas funciona no filme.

Alguns recursos empregados pelo diretor são bastante interessantes e pouco convencionais. Duas boas cenas que exemplificam isso são o dia depois da primeira relação amorosa do casal, onde o filme se transforma naquele momento em um musical, com pessoas dançando na rua e todo tipo de característica típica do gênero; e mais tarde no re-encontro de Summer e Tom, onde a tela é dividida ao meio e vemos do lado esquerdo o que está acontecendo de verdade e no direito o que o protagonista tinha como expectativa.

O que faz desse filme diferente de uma comédia romântica tradicional? Bem, nada, sem dúvidas o filme é uma comédia romântica (ainda que seja bem dramático em muitos momentos), apenas um pouco mais realista.

Cuidado, soltarei alguns Spoilers adiante.

500-days-of-summerPara começar sabemos desde a primeira cena e pelo título do filme que o relacionamento não deu certo. São 500 dias com ela e acabou, eles se retiram da vida do outro. O filme é sobre este processo de conhecer alguém, se apaixonar e efetivamente seguir adiante, e acredito que o que o diferencia é um pouco isso, a maioria destes filmes parece esquecer que seguir adiante também faz parte de um relacionamento e as vezes é até mesmo a parte mais essencial.

Ambos aprendem com o relacionamento, tomam atitudes egoístas e eventualmente lidam com isso. A coisa me soa tão familiar que eu diria que o filme não passa na verdade de uma história contada por um amigo seu, numa conversa sobre seu último relacionamento.

500 dias de verão é um filme nerd-indie romântico (como o brasileiro “Apenas o fim”), que certamente agradará aqueles que vivem inseridos nesse meio cultural. É possível se identificar com ele e sofrer com as vivências dos protagonistas, mas não se trata de forma alguma de uma obra primado cinema. Ele possui suas falhas e sua obviedade, mas certamente é um filme muito divertido e interessante que merece ser visto.

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