Festival do Rio: A bem vinda nova perspectiva do ótimo “Boi Neon”

Esqueça o cinema tipo exportação com um Nordeste folclórico ou de idealismos cinemanovistas. O excelente Boi Neon amplia uma bem vinda tendência de ressignificação geográfica no cinema brasileiro.

A história acompanha o cotidiano de Iremar (Juliano Cazarré), um homem encarregado de cuidar dos touros da vaquejada, mas que sonha em ser estilista feminino e que viaja com um grupo de trabalhadores pelo interior, para as apresentações desses bovinos. Dentre eles, está Galega (Maeve Jinkings, maravilhosa como de costume), motorista de caminhão que transporta os animais de uma arena à outra, que faz shows sensuais e tem a companhia da filha, adoradora de cavalos.

A obra do diretor pernambucano Gabriel Mascaro é um libelo sobre as riquezas humanas que compõem a aridez de um Brasil em todos os sentidos, profundo. Mascaro estabelece uma narrativa de contrastes e inversão de expectativas. Por isso, o filme não carece de explicações mais formais, como a natureza das relações que explora, nem uma conclusão objetiva.

Um filme carnal, pulsante e contemplativo. Mascaro põe a câmera como testemunha cotidiana de seus seres. Cazarré é o ator perfeito para esse tipo de investigação cênica: é destituído de pudor e artificialismos. E a forma como sua história vai sendo desenvolvida, de forma viva, demonstra que seu distanciamento estético é na verdade uma afeição afetiva. Grande filme!

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