É até redundante falar sobre o quão rica e variegada é a cultura latino americana, sobretudo no que tange à música. O que faz a música do continente ser tão plural e eivada de matizes é a mestiçagem. Sem esse DNA vira-lata essa grandeza cultural se empalideceria.
O diretor Carlos Saura ciente disso empreendeu um tratado sobre a música latina em seu novo filme “Argentina” (“Zonda, folclore, argentino”, Espanha/França, 2015). Através de suas lentes, Saura explora toda a magia do folclore argentino por um viés lúdico se utilizando na maior parte do tempo de cores quentes e vívidas para realçar ainda mais a exuberância. Essa é a continuação de uma série em que o diretor espanhol imerge em ritmos musicais. Os anteriores foram “Tango”, “Fados” e “Flamenco, flamenco”.
É interessante a mescla de passado, presente e futuro estabelecida pelo diretor. Porém seu objetivo não é contar uma história linear do folclore latino. Para a empreitada, foram convocados alguns dos maiores artistas e grupos argentinos para dar vida aos números musicais e de dança. A ponte entre o passado e o futuro é bastante explícita na bela homenagem à argentina Mercedes Sosa, observada. Também é engraçada a forma lúdica que Saura escolheu para representar a dança crioula conhecida como “El gato”, utilizando bailarinas vestidas de…gato.
O filme é todo feito em estúdio, mas com elementos cênicos e iluminação adequados para dar pujança às apresentações, inclusive com emulações de elementos naturais com sol, elemento evocado na maior parte do tempo.
Zamba, Cueca, Condición, Cuando, estão todos ali reunidos nesta verdadeira cápsula do tempo para que as gerações futuras, mesmo que imersas no pop, hip hop e outros gêneros importados, não se esqueçam de suas raízes. É a contribuição de um espanhol para a afirmação da importância de se manter a lembrança da pluralidade do patrimônio cultural argentino
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