Festival do Rio: Como Esquecer e sua natureza russa

Um filme sobre a dor da perda. É assim que o filme Como esquecer, de Malu de Martino pode ser sintetizado. Seguindo a costumeira vertente de nosso cinema, também é baseado em um livro, Como esquecer – Anotações quase inglesas, de Myrian Campello, e narra o drama de Julia, uma professora universitária (uma Ana Paula Arósio totalmente desglamourizada) que tenta se recuperar de uma eloquente separação, que a deixa em estágio de desespero e opressiva reclusão.

Malu reforça bem esse nebuloso sentimento que vai corroendo a vida da personagem, em planos claustrofóbicos e homeopáticos flashbacks que exprimem muito mais do que mostram. A direção procura ilustrar essa obscuridade quase que integralmente no filme, tornando o longa excessivamente pesado e denso. Ainda que, por vezes, resvale num “descanso cômico” na figura do ator Murilo Rosa, que interpreta o amigo íntimo de Julia, e naturalmente o seu contraponto, que procura o tempo inteiro fazê-la voltar a vida, assim como Lisa (Natália Lage), que também sofre um grande revés da vida, mas procura encarar o dilema de forma mais expansiva. Os três acabam indo morar juntos numa região remota do Rio e vivenciam formas distintas de seus dramas pessoais.

Emoldurado por uma fotografia fria e soturna, o filme encontra seu ponto alto nos diálogos travados entre cada integrante desse grande conjunto de sobreviventes emocionais de suas próprias vidas. Como Julia é professora de literatura inglesa, suas digressões sobre os paralelos entre a obra de Virgínia Wolf (e suas contemporâneas literárias) e a vida são bem consistentes e trazem boas metáforas para o caminho que a história vai tomando, principalmente com a chegada da personagem de Arieta Corrêa (num de seus melhores desempenhos) que passa a ser um norte na obtusidade em que a vida de Julia se encontra.

Mesmo sendo um belo filme, e de certa forma, um perturbador retrato do luto autoimposto de um término de relação, a diretora pesa a mão demais, acabando que o longa sufoca em seu próprio dilema, tornando-se excessivamente pesaroso. Sabe a literatura russa? Genial em muitos aspectos, mas excessivamente opressiva. É assim que o filme se insere, e é por aí que o filme não rompe a barreira do correto, sem ser extraordinário.

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