Um dos longas mais aguardados da Première Brasil, “Mate-me Por Favor” não só cumpriu a imensa expectativa (alimentada pelo barulho causado por sua participação no último Festival de Veneza), como comprovou que o nome da (então) curta-metragista Anita Rocha da Silveira faz sim parte da nova geração de diretores que estão trazendo frescor ao moderno cinema brasileiro.
Na trama, uma onda de assassinatos invade a Barra da Tijuca. O que começa como uma curiosidade mórbida se apodera cada vez mais da vida dos jovens habitantes. Entre eles, Bia (Valentina Herszage), uma garota de 15 anos. Após um encontro com a morte, ela fará de tudo para ter a certeza de que está viva.
De acordo com a diretora, a ideia é mostrar um pouco o anseio de ser jovem em 2014. Seu filme é objetivamente uma radiografia da juventude moderna, sendo ela pungente dentro de suas características mais universais. Seu filme também é subjetivamente uma observação aguda sobre o vazio contido na histeria da juventude.
Anita é uma realizadora sagaz. Estabelece um universo onírico em sua visão um tanto obscura de um bairro tão idiossincrático como a Barra da Tijuca. E desenvolve isso para sua trama e personagens se valendo exatamente desses matizes específicos que tangem geográfica e socialmente.
Nota-se uma influência clara do cineasta David Lynch especialmente na forma como trata o suspense com muita personalidade e densidade. Para tal, muniu-se de uma fotografia que exala melancolia a cada frame, a cada dimensão extraída de sua espacialidade (repare nos takes do BRT) e a cada olhar vazio de seus jovens. Jovens esses, que fazem um trabalho extraordinário de vivacidade (do experiente e ótimo Bernardo Marinho até as novatas).
Mate-me Por Favor não é um filme de respostas. É um trabalho de ambiência e ambivalência. Daí podemos pescar outra referência: assim como Sofia Coppola, Anita faz um cinema interessado no estado de espírito das coisas. Afinal, na aparente superficialidade da juventude, reside uma subjetividade reveladora.