Festival do Rio: The Town – A direção certa de Ben Affleck

Exageradamente subestimado em sua carreira de ator, Ben Affleck ressurgiu para público e (principalmente) para crítica numa bem sucedida carreira de diretor. Em 2007 lançou Medo da Verdade, adaptação do livro Gone Baby Gone, do escritor norte-americano Dennis Lehane (o mesmo do vigoroso Mystic River, adaptado para os cinemas por Clint Eastwood em 2003, que, por aqui, chamou-se Sobre Meninos e Lobos). Em sua estréia na direção, o ator demonstrou talento apurado ao esmiuçar as ambiguidades que o livro evoca em sua estrutura narrativa. Affleck dirigiu a produção com uma secura imprescindível para o sucesso (pelo menos artístico) de sua pretensão.

Agora ele encara seu segundo filme (e desafio) com The Town (ridiculamente traduzido no Brasil como Atração Perigosa) em que, não somente conduz, como também protagoniza, provando que assim como sua direção, sua atuação merece ser vista com respeito.

Mais uma vez adaptando um texto literário (baseado no livro The Prince of Thieves, de Chuck Hogan), o ator/diretor conta a intricada trama de Doug MacRay (vivido pelo próprio), um assaltante de carros-fortes que decide parar de viver na marginalidade. Um assalto que termina fazendo uma gerente de banco (Rebeca Hall) de refém, acaba sendo o estopim para essa sua decisão. É claro que os dois acabam se envolvendo num jogo de extremos entre paixão e marginalidade. O filme conta ainda com um bom time de coadjuvantes como o badalado Jeremy Renner (a coisa mais interessante do superestimado e oscarizado Guerra ao Terror), como um tenso antagonista, Jon Hamm (Mad Men) e uma surpreendente Blake Lively, provando ter vida própria para além de sue glamuroso papel de protagonista na série Gossip Girl.

Procurando mais radiografar do que simplesmente ambientar o filme em sua Boston natal, Affleck – que também contribuiu ao roteiro – é seguro na direção do longa, sendo claramente influenciado pelos filmes policiais americanos da década de 70. Compreende perfeitamente a natureza do gênero de seu filme e vai manejando a tensão sempre de acordo com o crescimento da trama. Assim como em seu filme anterior, há ainda problemas no roteiro – em Medo da Verdade a engenhosidade excessiva quase atrapalha o bom resultado final. The Town exibe ganchos muito inverossímeis e sua conclusão beira o melodramático, quase que dissonante do restante do filme. Sorte que Affleck mantém sua direção na objetividade do que se propõe e essa segurança faz toda a diferença. Se continuar nesse raciocínio fílmico poderá chegar ao panteão dos grandes realizadores do cinema. Volta por cima ele já sabe muito bem como dar.

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