O cineasta Lee Daniels, que está no Rio para divulgar seu mais recente filme “O Mordomo da Casa Branca”, se mostrou um pouco diferente da maioria dos diretores que vêm ao Brasil: simpático, muito falante e com um visual despojado, que incluiu sandálias no lugar de sapatos, ao receber a imprensa na sede do Festival do Rio, no Pier Mauá. Ele não se recusou a responder a nenhuma das perguntas e fez até algumas piadas para os jornalistas.
Segundo Daniels, foi um risco escalar atores conhecidos para fazer os papéis de presidentes no filme porque preferiu se cercar de amigos no elenco e de pessoas que fariam o público ir ao cinema. O cineasta até brincou dizendo que, se a mãe dele fosse uma estrela, ela estaria no filme. O diretor confessou que segue 99% do que está no roteiro quando está filmando e que não poderia improvisar quando tratou de fatos históricos. Quanto à ausência dos presidentes Gerald Ford e Jimmy Carter em “O Mordomo da Casa Branca”, o diretor se justificou dizendo que não queria ser didático e que a história é sobre a jornada do protagonista Cecil (Forrest Whitaker) e não sobre os chefes de Estado dos EUA.
Segundo Daniels, o projeto do filme chegou a suas mãos graças à produtora Laura Ziskin (de sucessos como “Uma Linda Mulher” e “Homem-Aranha”), que decidiu fazer “O Mordomo da Casa Branca” porque queria realizar um filme realmente importante antes de morrer (Ziskin faleceu em 2011, após lutar contra um câncer). Ele também agradeceu a Steven Spielberg por ter recusado o projeto. “Ele me deu um emprego!”, brincou Daniels. Além disso, ele disse que o filme teve 41 produtores porque todos os grandes estúdios disseram “não” para a produção. Então, o cineasta teve que contar com várias pessoas diferentes para levantar o dinheiro necessário para realizar o filme.
Para o diretor, “O Mordomo da Casa Branca” é mais um filme sobre o relacionamento entre pai e filho (no caso, Cecil e Louis, interpretado por David Oyelowo) do que uma aula de História. Daniels também disse que dirigir esse filme foi a coisa mais difícil que já fez porque teve que cobrir um grande período cronológico e que teve um novo desafio a enfrentar a cada dia. Mas que o mais complicado foi não ter dinheiro suficiente para a produção e que isso gerou alguns momentos complicados.
Ele se disse irritado durante as filmagens ao ver as injustiças que os negros americanos sofreram no passado por causa de sua luta pelos seus direitos, como o voto. Mas sua raiva passou graças à convivência que com Forrest Whitaker, que o considera a pessoa mais humilde e humana que já conheceu, além de saber que homens brancos também ajudaram os negros a terem seus direitos reconhecidos. Ele reconhece que muita coisa já mudou nos Estados Unidos a respeito disso, a começar pelo fato de um homem como Barack Obama ser presidente da nação mais poderosa do mundo.
Quanto à escalação de Oprah Winfrey como a protagonista do filme, Daniels disse que ficou amigo dela depois que a famosa apresentadora de TV o ajudou a produzir “Preciosa -Uma História de Esperança” (2009), e queria que ela participasse de um outro projeto. Mas, inicialmente, ela recusou o papel. “Eu implorei, eu chorei, eu a intimidei até que, finalmente, eu a convenci!”, disse Daniels. Ele afirmou que, durante as filmagens, viu uma mulher mais vulnerável do que o público se acostumou a ver e que ela é um ser humano adorável.
Daniels também revelou porque dirige seus filmes usando pijamas: “É mais fácil. Eu trabalho 17 horas por dia. Por isso, eu saio da minha cama e vou direto para o set. Hoje, resolvi não usar pijamas por respeito aos adoráveis brasileiros! (risos)”. Como a maioria dos turistas, o diretor elogiou a sensualidade do Brasil e pensa em voltar ao país, durante as Olimpíadas de 2016. Mas não para a Copa do Mundo de 2014. Provavelmente ele não curte futebol.
O cineasta também revelou que sempre coloca astros da música como Mariah Carey, Lenny Kravitz e Macy Gray em seus filmes porque eles são seus amigos e, por terem idades próximas, é mais fácil para trocar ideias, até porque todos fazem parte de uma comunidade afro-americana. Por fim, ele confessou que gostaria de fazer um musical ou um filme de terror. “Mas só se for do nível de ‘O Exorcista’ ou ‘O Bebê de Rosemary’. Se não for desse nível, nada feito!”, disse o simpático diretor.
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