“Não há nada mais diferente de um homossexual do que outro homossexual“. Essa é a afirmativa mais emblemática do documentário Favela Gay, dita pelo deputado federal Jean Willys, um dos entrevistados do longa. Apostando nessa diversidade contida na diversidade sexual que cada dia personifica mais nossa sociedade, o documentarista Rodrigo Felha leva sua câmera para as comunidades do Complexo do Alemão, Andaraí, Cidade de Deus, Complexo da Maré, Rio das Pedras e Rocinha buscando radiografar o cotidiano de alguns gays em meio ao ambiente de marginalidade de suas localidades. Felha (que é heterossexual) tem reforçado seu posicionamento de um cinema mais social e a favor da pluralidade, e isso fica evidente na preocupação em refletir no indivíduo a influência e as complexidades de seu meio. O trabalho de pesquisa é ótimo e resulta em personagens bem interessantes que ajudam a reforçar o discurso da diversidade entre os gays (preste atenção no depoimento de um rapaz que trabalha como travesti), com histórias muito próprias, que reforçam a luta para ter dignidade nas ruas, e até mesmo dentro de suas casas.
Um ponto alto do documentário é conseguir com que a abordagem dos retratados não caia na contradição de caricatura. Felha está interessado nas histórias daquelas pessoas em suas perspectivas comportamentais. Não no personagem que fazem deles. Ao conseguir essa abordagem, o filme destaca as diferentes formas deles se enxergarem no mundo. Por outro lado, cinematograficamente, Favela Gay, pouco avança para além de uma estrutura tradicional de enfoque. Talvez, e até pelo tema, falte uma preocupação estética mais apurada que fuja um pouco da previsibilidade do formato. Entretanto, o intuito do longa, de retratar esse microcosmo de um microcosmo é bem legítimo e, como diz a frase do Jean Willys no começo do texto, a única diferença no tocante ao universo gay deve existir entre suas próprias personalidades, enriquecendo assim aquilo que torna todos iguais: nossa humanidade.