“Gangues de Tóquio” (“Tokyo Tribes”/ Japão, 2014) é a nova travessura do diretor japonês Shion Son. O realizador de “Porque Você Não Vai Brincar No Inferno” (uma das atrações do Festival do Rio de 2013) foi buscar inspiração no mangá para adultos Tokyo Tribes 2, que é uma continuação da série criada por de Santa Inoue publicada de 1997 a 2005 na revista nipônica Boon. Essa adaptação cinematográfica é uma inusitada ‘Ópera Rap’ que versa sobre os conflitos de gangues locais entre si e contra a máfia japonesa, em uma periferia de Tóquio com ares futuristas e ao mesmo tempo decadente, como se a Los Angeles de Blade Runner se misturasse à Baixada Fluminense ou àqueles cenários mostrados em Amores Expressos do cineasta Wong Kar Wai.
O filme, apesar de não ter a pretensão de ser levado a sério, apresenta um trabalho de fotografia interessante e explora bastante planos sequência ousados, com movimentos de câmera elaborados. Os personagens são bastante sui generis, caricatos e sem a menor vergonha. A começar pelo narrador, uma espécie de ‘MC’, que introduz a trama entoando um Hip Hop e sempre surge em momentos pontuais. A sequência da luta massiva entre gangues em que ele aparece rimando andando e se desviando de golpes desferidos por todo lado é hilária. No que tange à parte musical, que serve para ilustrar a trama, pode-se dizer sem medo de errar que coloca no chinelo boa parte dos clipes de Rap que se vê em canais de vídeo clipes por aí.
O filme, assim como a HQ, condensa sarcasmo, muito humor negro e não poupa nudez, muito menos sangue, que na maioria das vezes é digital, mas combina com o tom do filme que vai da crueza a um quase cartoon. As cenas de luta são tão estapafúrdias quanto empolgantes. À medida que a trama vai avançando, as situações vão se tornando cada vez mais absurdas, o compromisso com o bom senso e com a verossimilhança também vai se tornando rarefeito, mas isso não chega a ser um demérito, pelo contrário. Há muito tempo não se via um filme de ação tão sincero na sua proposta. Ele nos remete à época em que Hollywood nos dava filmes como Os Aventureiros do Bairro Proibido. Ultimamente, só a Ásia tem produzido filmes que dialogam com esse tipo de estética fora do convencional, como por exemplo Sukiyaki Western Django.
Certamente Quentin Tarantino já viu e aprovou “Gangues de Tóquio”, e não é improvável que apadrinhe a distribuição da fita nos cinemas estadunidenses (inclusive há uma referência a filme dele em um momento) como já fez com outras produções asiáticas, mas quanto ao circuito brasileiro ainda não há nada definido (passou com legendas eletrônicas, aquelas projetadas abaixo da tela, o que significa data de distribuição indefinida), mas seria ótimo ver o circuito comercial tomado por uma adaptação de HQ completamente fora do padrão pasteurizado que nos acostumamos a ver recentemente.
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