Ninguém diria, a olhar hoje para Freda Kelly, que aquela simpática e pacata senhora de 68 anos quando jovem tinha o emprego mais cobiçado do mundo naquele 1962: ela era secretária dos Beatles. Sim, ela era encarregada de organizar todas as cartas destinadas a cada um dos quatro de Liverpool, além de dar e receber telefonemas, tudo na maior eficiência e humanidade, afinal, ela tinha a idade das fãs, e era também uma fã do grupo. Ela entendia perfeitamente quem estava do outro lado da linha. O documentário foi um trabalho hercúleo para o diretor, o americano Ryan White, nem tanto quanto ao acesso às imagens de arquivo, muitas delas raras, mas pela dificuldade de arrancar as informações de Freda.
Ryan conta que a conhece desde pequeno, pois ela é bastante próxima de sua família, porém, jamais passara por sua cabeça que aquela que tia reservada foi parte integrante da história do maior fenômeno pop da História. Freda nunca gostou muito de falar sobre seus anos de trabalho com os Beatles, nem mesmo com os filhos. Com o lançamento do documentário, ela sentiu um grande alívio, pois (quase) tudo que todos sempre quiseram saber dela agora está disponível, ela não precisa mais responder às mesmas perguntas que frequentemente lhe faziam. O documentário é bem conduzido e não cai na tentadora armadilha do sensacionalismo. Devido à vasta gama de filmes documentários feitos sobre os Beatles, juntos ou em carreira solo, tornou-se uma tarefa difícil surpreender os fãs com histórias de bastidores. O grande trunfo de Nossa Querida Freda – A Secretária dos Beatles (Good Ol’ Freda, E.U.A/GB 2013) é justamente mostrar a história do ponto de vista da testemunha ocular, colocando aquela jovem datilógrafa inglesa, fã da banda desde o início, como uma peça fundamental na engrenagem do que fazia com que o conjunto mantivesse o status que alcançara.
Em uma época sem Twitter ou Facebook, a forma que havia de se manter informado sobre seu artista favorito era através de revistas mensais e fã- clubes, e a tarefa de Freda era também atualizar as informações para esse público. Sua eficiência além do carinho e zelo que tinha pelos rapazes fez com que ela se tornasse como alguém da família, inclusive ela tinha bastante acesso à família de cada um incluindo pais, mães tias, esposas e filhos.
Não deixa de ser curioso observar a forma por vezes amadora como as bandas eram assessoradas naquele tempo. Eram os Beatles! O maior conjunto do planeta, e contavam apenas com uma secretária (que, claro, posteriormente passou a comandar uma pequena equipe), fazendo tudo manualmente. Hoje qualquer aspirantezinho a celebridade tem todo um staff de relações públicas.
Nossa Querida Freda não teve participação dos ex-Beatles sobreviventes, apenas um breve depoimento de Ringo ao final dos créditos. Paul McCartney não deu o seu por não conseguirem conciliar com sua agenda, mas certamente gravará algo para o DVD. Contudo estavam cientes de que o filme estava sendo feito e liberaram acesso aos arquivos e também os direitos das músicas a serem usadas. Assistir Freda desfiando seu novelo de memórias ao longo de 86 minutos é delicioso. As histórias são divertidíssimas, como a de quando colocou Ringo para dormir em uma fronha enviada por uma admiradora ou quando colecionou pedaços das roupas que Paul McCartney usava, para depois dar para pessoas que fariam de tudo para ter um pedacinho do músico em casa. Porém, uma pergunta que nunca quis calar não foi respondida: se ela saiu com algum dos quatro. Freda preferiu não responder, mas não negou assertivamente. Perguntado sobre isso, o diretor diz que acredita ter sido George o seu affair. Será? Fica mais um entre os vários mistérios a cerca dos Beatles.
[xrr rating=3.5/5]
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Sábado, 05/10 | 21:30 | Roxy 3 | RX036 |
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