O violento e desregrado Pedro Chão (Felipe Camargo) aparece ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha. Os residentes locais o acusam de roubo e tentam, em vão, que ele recupere a memória – e devolva o dinheiro. Em um julgamento popular, vem à tona uma trama que envolve violência doméstica, de gênero, tráfico de pessoas e desvio de verba pública. Condenado ao isolamento, ele busca um novo sentido para sua vida.
Esta é a premissa de “Filhos do Mangue”, de Eliane Caffé, que participa da seleção do 26º Festival do Rio, que acontece de 3 a 13 de outubro de 2024. A exibição acontece dentro da Première Brasil, no dia 9, às 20h45min, no Estação Gávea 3 (para convidados) e dia 10, às 16h15min, no Estação Net Rio 5, aberta ao público. O filme teve sua estreia nacional no último Festival de Cinema de Gramado, onde conquistou os prêmios de melhor direção e atriz coadjuvante para Genilda Maria.
O protagonista procura na natureza e entre os residentes da pequena vila de pescadores as peças perdidas de sua vida. O trabalho rendeu uma experiência intensa para seu intérprete, segundo a cineasta. O ator usou como inspiração sua convivência com os habitantes da paradisíaca Barra do Cunhaú (RN), onde o filme foi rodado, para compor seu personagem. Com uma extensa filmografia em cinema e TV, o carioca Felipe Camargo (“O Juízo”) pode ser visto recentemente na telinha na reprise das novelas Alma Gêmea e Despedida de solteiro – a última lançada este ano no streaming.
Na história, a amnésia repentina de Pedro Chão o fez esquecer uma existência que ninguém gostaria de lembrar. Em seu processo de reconstrução, ele vai encontrar as pessoas de sua convivência. Entre seus muitos acusadores, estão a ex-esposa, vivida por Titina Medeiros (“Cangaço Novo”), e a filha (a atriz mirim Maria Alice da Silva). Natural de Currais Novos, município do interior do Rio Grande do Norte, Titina está atualmente no ar com as novelas Cheias de Charme e No Rancho Fundo.
Ainda que o filme lide com traumas e temas particularmente espinhosos como violência doméstica e exploração do trabalho, a narrativa de “Filhos do Mangue” acha espaço para a ironia e alguma leveza nas andanças do protagonista. “O humor pode ser uma ferramenta valiosa para humanizarmos questões complexas e áridas”, acredita a realizadora de “Os Narradores de Javé” (2003). “A dosagem, vamos tecendo na vivência das cenas”, explica Eliane Caffé.
Outro ponto chave da trama é o mangue, que retrata no filme a nascente da pesca familiar, devorada pela exploração de terceiros, e, ao mesmo tempo, serve de expressão da mãe natureza. “Ela traz o elemento que nos transcende a todo instante”, elabora a diretora. “E, se escutamos a natureza, como os personagens fazem em alguns momentos, alargamos a relatividade de tudo o que nos forma como identidades”, conclui a diretora. Como um náufrago perdido na memória, Pedro Chão procura por respostas no coração do mangue.
O projeto original baseia-se em argumento adaptado de um livro do escritor Sérgio Prado, “Capitão”, de 2011. “Depois, quando chegamos na Barra do Cunhaú, tudo foi virado do avesso. A própria localidade e seus personagens começaram a apontar novos caminhos de narrativa”, relembra a cineasta. A direção também deu espaços a improvisações em quase todas as cenas, porém mantendo a estrutura do roteiro, dividido entre Eliane e o dramaturgo Luis Alberto de Abreu. “Filhos do Mangue” é o quinto longa da realizadora paulista.
O elenco traz também Roney Villela, Jeniffer Setti, Thiago Justino, Genilda Maria, Pequena Cintilante, Luana Cavalcante e outros, além de pescadores, criadores de ostras e população local da comunidade de Barra do Cunhaú. Fernando Muniz e Beto Rodrigues assinam a produção executiva. O roteiro original é de Sergio Prado. Pedro Rocha e Rodrigo Frota são os responsáveis pela direção de fotografia e direção de arte, respectivamente. A direção de produção ficou a cargo de Andrea Lanzoni.
“Filhos do Mangue” é uma realização da Pé na Estrada Filmes, com patrocínio da Protege e Britânia. Apoio: Sebrae, Pousada Vila da Barra, Pousada do Forte, Naturezatur, Coco Mango, AOC (Associação de Ostreicultores de Canguaretama), Aldeia Indígena Katu e prefeitura de Canguaretama. A distribuição é da Bretz Filmes. Este filme foi produzido com recursos públicos operados ou geridos pela ANCINE, BRDE e FSA.
Sinopse:
Um homem violento e desregrado aparece ferido e sem memória em uma comunidade ribeirinha. Esta o acusa de roubo e tenta, em vão, que ele recupere a memória e devolva o dinheiro. Em um julgamento popular, vem à tona uma trama que envolve violência doméstica, de gênero, tráfico de pessoas e desvio de verba pública. Condenado ao isolamento, ele busca um novo sentido para sua vida.
Ficha Técnica:
“Filhos do Mangue”
Ficção | Drama | 110 minutos
Direção: Eliane Caffé
Produtores: Fernando Muniz e Beto Rodrigues
Produtores Associados: Anselmo Martini e Carolina Brasil
Diretora Assistente: Tarsila Araújo; 2ºAssist. Marina Tinel; 3ºAssist. Marcia Lohss
Elenco: Felipe Camargo, Roney Villela, Titina Medeiros, Genilda Maria, Thiago Justino, Jeniffer Setti, Luana Cavalcante, Pequena Cintilante, Jurema Terra, Wilaneide Campos, Geisla Blanco, Barney Villela, Arlindo do Nascimento, Chico Gomes, Sergio Henrique, Gilmar de Oliveira, Fátima da Silva, Maria Baixinha, Seu Chão, Fernando Muniz, Vênus de Morais, Ni, Makarios Maia, George Holanda, Salesia Paulino, Felipe Freire, Marcia Lohss, Paola Mallmann, Dona Ditinha, Maria José, Socorro Rabelo, Maria Alice da Silva e Hugo Oliveira; Preparadora de elenco: Marcia Lohss
Roteiro: Eliane Caffé e Luís Alberto Abreu, baseado na obra literária e no roteiro original CAPITÃO, de Sérgio Prado
Diretor de Fotografia: Pedro Rocha; 1º Assist. de Direção de Câmera: Larissa Vescovi;
2ºAssist.: Gabriel Sager Rodrigues; Operador de Câmera da Segunda Unidade: Zé Bob; 1º Assistente de Câmera da Segunda Unidade: Dudu Barbosa; Logger: Luis Ramon
Diretor de Arte: Rodrigo Frota; Primeiro Assistente e Cenógrafo: Erick Saboia; Produtora de Arte: Valeria Pinheiro; Cenotécnicos: Claudio Carijó, Antonio Lima; Contraregra: Jeferson Vieira, Figurino: Luiz Santana; Primeira assistente de figurino: Michele Dalpasqual 2ºAssist. Sueldo Freitas Soares (Su); Visagismo: Bob Paulino; Primeira assistente de visagismo: Anderson Diniz
Trilha Sonora: Thomas Rohrer; Som direto: Lucas Caminha; Mixagem: Alexandre Rogoski e Ariel Henrique
Edição: Eliane Caffé, com a assistência de Keily Estrada
Continuísta: David Sobel Logger: Luis Ramon Video Assist: Júlio César Schwantz
Platô: Jairo Dornelas; 1º Assist. Platô: Thierry Henry; 2º Assist. Platô: Will de Oliveira
Som direto: Lucas Caminha; Microfonista: Catha Pimentel; Segundo Microfonista: Carolina Cutrim
Assistente Microfonista e Locação de Equipamentos: Mayra Coelho
Eletricista Chefe/Gaffer: Alexandre Henrique da Silva; Assist. de Elétrica: Gilberto Donato Massari e Leandro Cleyton Lima
Maquinista Chefe: Alex Índio
Produção de Elenco Principal: Fernando Muniz
Produção de Elenco Local: cardeiro.art
Finalização: João Castelo Branco e Rafael Lopes (NIT’S Lab)
Desenho de Som: Ale Rogoski
Designer Gráfico (Letreiros/Poster) e Primeiro Desenho de Produção de Arte: Carla Caffé
Controller e Administrativo: Lucio Monteiro Aguiar e Lia Procati
Assistente de Produção Executiva: Paola Mallmann
Diretora de Produção: Andrea Lanzoni
Coordenadora de produção: Keila Sena
Sobre Eliane Caffé – Diretora
Eliane Caffé formou-se em Psicologia e, em 1988, partiu para Cuba para iniciar seus estudos de Cinema na “Escola Internacional de Cine y TV de San Antonio de los Baños”. Em 1990, viajou para Espanha com uma bolsa de pós-graduação para aprofundar sua formação humanista no “Instituto de Estética e das Artes” da Universidade Autônoma de Madrid.
De volta ao Brasil, seguiu a carreira de cineasta escrevendo e dirigindo curtas, longas-metragens e séries de TV que vêm ganhando o reconhecimento da crítica e público em importantes Festivais e Mostras no Brasil e internacionalmente. Ao longo de sua trajetória, a diretora vem construindo temáticas e abordagens cada vez mais implicadas com a exploração da linguagem audiovisual em “zonas de conflitos reais” – tanto no contexto rural do Brasil como nos grandes centros urbanos.
Em seus trabalhos, é visível a experimentação com a narrativa que interage com personagens reais e agrega repertórios de seus universos de vida como coletivos com voz própria. Mais do que personagens e cenários, esses coletivos atuam em pé de igualdade com a equipe técnica do filme em todo o percurso da realização da obra. Atualmente, está voltada para consolidar a prática de pensar e produzir um cinema “polifônico”, “dialógico” e que se estenda muito além dos sets de gravações.
Filmografia
“Era o Hotel Cambridge” (2016) – Prêmio do público e da crítica no Festival do Rio; “O sol do meio-dia” (2009) – Prêmio de melhor filme brasileiro concedido pela crítica na Mostra Internacional de São Paulo; “Os Narradores de Javé” (2003) – Selecionado para o Festival de Rotterdam, na Holanda – Prêmio especial do júri no Festival de Fribourg, na Suíça – Prêmio de melhor filme no Festival de Bruxelas; “Kenoma” (1998) – Prêmio de melhor filme no Festival de Biarritz.
Sobre Fernando Muniz
Ganhou destaque internacionalmente ao coproduzir o documentário “Cinema Novo”, de Eryk Rocha – vencedor do Olho de Ouro, prêmio de melhor documentário no Festival de Cannes, em 2016. Em 2017, lançou no Brasil, nos EUA e China o filme Soundtrack, com Selton Mello, Seu Jorge e Ralph Ineson. Foi produtor associado de “O Grande Circo Místico” , dirigido por Cacá Diegues. O filme esteve no Festival de Cannes de 2018 e representou o Brasil para disputar uma vaga ao Oscar.
Em 2019, sua coprodução “Luz nos Trópicos”, dirigida por Paula Gaitán esteve no Festival de Berlin, foi premiado como melhor Filme Ibero Americano no Festival de Lima e Melhor filme no Olhar de Cinema de Curitiba. Em 2021, lançou a coprodução “Veneza”, dirigida por Miguel Falabella (e estrelada por Carmen Maura, Dira Paes, Eduardo Moscovis, Carol Castro, André Mattos e Danielle), e, em 2023, “Human Persons”, uma coprodução entre Brasil, Espanha, Colômbia e Panamá.
Sobre Beto Rodrigues
Beto Rodrigues é pós-graduado em Cinema e Audiovisual pela Universidade Complutense de Madrid. É sócio-diretor da Panda Filmes, e da Pé Na Estrada Filmes, ambas no Brasil.
Atua como produtor e diretor, além de colaborador de roteiros. Já atuou em diferentes funções em 28 longas-metragens e 7 séries. Seus trabalhos mais recentes como produtor são os longas-metragens “De Repente, Miss”, em coprodução com Sony Pictures; “Filhos do Mangue”, seleção oficial do Festival de Gramado 2024; “Los Terrenos”, coprodução Argentina, Uruguai e Brasil; “Kunhã Karai e as Narrativas da Terra”, “Casa Vazia”; “Pessoas Humanas”, em coprodução com Panamá e Espanha; “Meu Mundial” e “Reus, De Volta ao Bairro”, em coprodução com Uruguai e Argentina; “Comboio do Sal e do Açúcar”, em coprodução com Portugal, França, África do Sul e Moçambique; “Em 97 Era Assim”; “La Tierra Roja”, em coprodução com Argentina e Bélgica; o documentário “Central” e as séries de TV “Oxigênio”, “Paralelo 30”, “Amélio, o Homem de Verdade”, “Retratos do Cárcere” e Mata Salvaje, coprodução Argentina e Brasil.
Foi vice-presidente da Associação Profissional dos Técnicos Cinematográficos (APTC/RS) e presidente do Sindicato da Indústria Audiovisual do RS (SIAV-RS) durante três gestões. Atualmente, é presidente da Fundação Cinema RS (FUNDACINE-RS) e Coordenador do Forúm Audiovisual Sul, Minas, Espírito Santo (FAMES).
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