Não que todo remake seja necessariamente aquém do original. Na verdade a maioria dos casos sim, mas não é justo tornar isso arbitrário. Perfume de Mulher (1992) e Bravura Indômita (2010) estão aí para comprovar. Gloria Bell é a adaptação norte-americana de Gloria (2013), feita pelo próprio diretor, o chileno Sebastián Lelio, que recentemente ganhou o Oscar de filme estrangeiro por seu Uma Mulher Fantástica (2017) e já tinha adentrado o território internacional com o bom Desobediência (2018).
O filme é praticamente quadro a quadro o mesmo visto no original. Lidando com os revezes da solidão, Gloria tenta se reinventar sob vários aspectos. Seja pelos relacionamentos casuais com os homens que conhece nas baladas de sua faixa etária, seja na tentativa de se reaproximar de seus filhos, que já estão chegando na casa dos 30 anos. Gloria submerge em sua vida ordinária. Durante uma dessas baladas, ela conhece o novo divorciado Arnold (John Turturro), ao trocarem olhares na pista de dança, e começam um romance, que se mostra um tanto desequilibrado emocionalmente, dada a complexidade dela diante da resignação afetiva dele.
Num filme em que Lelio faz um remake de Lelio, o que se ressalta é a interpretação extraordinária de Julianne Moore no papel. Para quem não conhece o filme original, a história é mais vigorosa em seus efeitos de se valer do estado de espírito de Gloria para falar sobre aspectos e controvérsias de sua própria maturidade. Isso é trabalhado de forma bem expansiva nos dois filmes.
Gloria Bell carece de autenticidade quando se coloca os dois filmes em perspectiva, vale dizer. Mas é o diretor perdendo (!) para si. Se o remake tinha que existir, fica a dúvida que se fosse dirigido por um outro diretor (até mesmo de outra nacionalidade ou cultura) trabalhando nesse universo de Lelio, o resultado poderia ser outro. Talvez melhor, talvez pior. Mas a Gloria de Julianne é grandiosa em seus silêncios, o que empurra o ritmo moroso do filme. Assim, a atriz traz mais vida ao filme que seu próprio criador.
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