A grande novidade do Oscar deste ano está na disputa da categoria de Melhor Atriz. Nela disputam o prêmio a indicada mais velha da história, a legenda da atuação Emanuelle Riva pelo filme Amor e a indicada mais jovem, a atriz Quvenzhané Wallis. Isso se for levada em conta a idade que tinha quando o filme fora concebido, quando ela tinha 8 anos; o ator mais jovem a ser indicado até agora fora Justin Harry de “Kramer vs Kramer”, que tinha quase 9.
Nazie, como a pequena americana natural da Louisiana é chamada pelos íntimos, estrela Indomável Sonhadora (Beasts of the Southern Wild E.U.A/2012), último indicado a melhor filme a entrar no circuito nacional e que , se não fosse a indicação ao Oscar, seria lançado diretamente em DVD. Ela também é a décima atriz negra a concorrer ao prêmio, unindo-se a Dorothy Dandridge, Diana Ross, Cicely Tyson, Diahann Carroll, Whoopi Goldberg, Angela Bassett, Halle Berry, Gabourey Sidibe e Viola Davis.
Na trama dirigida pelo estreante em longas metragens Benh Zetin, a pequena Hushpuppy moradora de uma comunidade miserável no sul dos Estados Unidos tem que lidar com a saúde cada vez mais frágil do destemperado pai e o perigo real de uma iminente inundação. Tudo isso ganha contornos meio fantasiosos , mas perfeitamente congruentes com a lógica de uma criança de sete anos. Zetin quer mostrar que qualquer situação adversa pode ser amenizada pelo ponto de vista peculiar de uma criança, o que as torna mais fortes do que adultos em situações extremas, ao contrário do que se pensa.
Os adultos da comunidade formam uma verdadeira liga de heróis da resistência. Defendem aquele chão devastado e insalubre como algo mais valioso que existe e resistem bravamente às cheias e, principalmente, às vãs tentativas da assistência social de removê-los para um abrigo. Preferem não se sujeitar às esmolas do sistema capitalista, que usa abrigos e instituições de caridade, muitas das vezes para empurrar o lixo para debaixo do tapete, afinal, deixar gente pobre livre por aí é assumir as falhas do sistema.
A direção de atores é o ponto mais acertado do filme, e o destaque, claro, vai para a pequena Wallis. A menina fora escolhida entre 4.000 crianças, sendo que teve que burlar sua idade, 5 anos, quando pedia-se meninas entre seis e oito. E é impossível não se comover com sua atuação, a cada gesto, a cada olhar. Behn Zeitlin contou que quando viu o teste da menina pensou: “achei o que estava procurando”, e até mudou algumas partes do script para acomodar a forte personalidade de Nazie.
Indomável Sonhadora pode até não ganhar o Oscar de melhor filme, nem de melhor atriz, mas é mais um título desta excelente safra de inicio de ano que merece uma conferida. Em meio a produções gigantes como Lincoln e Os Miseráveis, é bom ter na disputa uma produção miúda, que ganhou visibilidade no Festival de Sundance, menos enquadrada na fórmula “feito-para-ganhar-oscar”. É o Davi entre os Golias, como fora Quentin Tarantino com seu Pulp Fiction fora há 18 anos.
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