São muitos os filmes cujo roteiro se baseia no conceito de correr contra o tempo. De clássicos como Matar ou Morrer (1952) a produções atuais, tal artifício de roteiro é uma fórmula certeira para criar suspense. O mais recente exemplo de filme que usa esta fórmula é O Culpado, produção da Netflix com Jake Gyllenhaal.
Gyllenhaal interpreta Joe Baylor, um detetive da polícia de Los Angeles que cometeu um grave erro em serviço e como punição foi rebaixado de função, sendo enviado para atender às chamadas de emergência. Naquele que poderia ser seu último dia neste trabalho, Joe atende uma ligação de uma mulher supostamente sequestrada e precisa correr contra o tempo para salvá-la.
Enquanto lida com esta questão profissional delicada, Joe ainda deseja se reconectar com a filha e com a ex, além de precisar lidar com o erro que cometeu e pelo qual está sendo procurado insistentemente por uma jornalista que quer escrever sobre o caso.
O roteiro envolvendo corrida contra o tempo não é nada novo. Um bom exemplo de filme com o mesmo artifício, inclusive envolvendo comunicação telefônica, é Uma Vida em Suspense, de 1965. Nele, Sidney Poitier interpreta um universitário que é voluntário numa linha de apoio para pessoas deprimidas. Numa noite, quando está sozinho, ele recebe a ligação de uma mulher, interpretada por Anne Bancroft, que ingeriu uma grande dose de barbitúricos. Ele precisará ficar com ela na linha até localizá-la e salvá-la.
A localização da suposta vítima é o menor dos problemas que Joe enfrenta em O Culpado. Graças à tecnologia, com um par de cliques ele consegue rastrear a ligação, descobrir quem está ligando e de qual local. A hiper-vigilância da atualidade surge assim como uma faca de dois gumes, muito criticada mas ao mesmo tempo também trazendo vantagens em situações de perigo como mostrado no filme.
Jake Gyllenhaal está em cena o tempo todo, e com um ator menos talentoso o filme não funcionaria. Da mesma maneira, não funcionaria se não houvesse bons atores usando apenas a voz para interpretar os outros personagens com quem Joe interage via telefone. No elenco de vozes temos Ethan Hawke, Paul Dano, Peter Sarsgaard e Riley Keough.
Os tons de preto e vermelho dominam a tela, com um raro ambiente todo em branco apenas no começo e no final. A escolha destas cores ajuda a criar uma atmosfera opressiva. A ação transcorre em meio a uma onda de incêndios florestais na Califórnia, o que dificulta a ação dos policiais rodoviários acionados por Joe, aumentando também a sensação de sufoco no espectador que vê nosso herói – ou talvez anti-herói – cercado por imagens de ambientes em chamas.
O Culpado é o remake do filme dinamarquês Culpa, de 2018. A nova versão foi filmada em apenas 11 dias em outubro de 2020, e o diretor Antoine Fuqua dirigiu todas as cenas de dentro de uma van, pois precisava se isolar porque uma pessoa próxima havia testado positivo para a COVID-19.
O Culpado é um bom suspense, que consegue entreter e surpreender o espectador. Não traz nada de novo em relação à história e empalidece se comparado com o filme original, mas prova que o roteiro de corrida contra o tempo continua eficiente.
Nota: Bom – 3 de 5 estrelas
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