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"Lady Bird – A Hora de Voar" cativa mesmo sem maiores inovações

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Musa do cinema alternativo americano, Greta Gerwig se tornou conhecida mundialmente graças à sua atuação em “Frances Ha” (2012), fruto de sua pareceria à frente (e também atrás) das câmeras com o diretor Noah Baumbach, com quem realizou diversos outros projetos. Depois de estabelecer como atriz e disposta a não ficar debaixo das asas de Baumbach, Greta resolveu, então, se empenhar em outros setores e se arriscar como cineasta. O primeiro resultado desta sua empreitada é “Lady Bird – A Hora de Voar” (“Lady Bird”, 2017), em que assume não só a direção mas também o roteiro para seu projeto semi-autobiográfico.
O resultado mostra que ela possui uma boa sensibilidade para contar uma história e um futuro promissor como diretora. O único (e mais grave) porém é que não há nada de diferente que já não tenha sido contado antes (e, às vezes, melhor) em outros filmes.
A diretora e roteirista ambienta sua trama em Sacramento, na Califónia (onde nasceu), e foca em Christine (Saoirse Ronan), uma adolescente que estuda em um colégio católico e deseja ter uma vida diferente da de sua família e seu temperamento explosivo a leva a entrar em conflitos com a maioria das pessoas, especialmente sua mãe, Marion (Laurie Metcalf). Tanto que adota o nome de Lady Bird para se tornar ainda mais independente de suas origens. Com planos de estudar em uma universidade longe de sua cidade, Lady Bird precisa lidar com questões relacionadas a amizade, namoro e sexo que farão parte de seu ritual de maturidade. Mas seu principal problema está no relacionamento com Marion, especialmente ao perceber que as duas têm mais em comum do que ela possa admitir.
Como diretora de primeira viagem, Greta Gerwig realiza um trabalho realmente muito bom. Ela desenvolve uma ambientação agridoce e, ao mesmo tempo agradável para desenvolver sua história, que nunca deixa o ritmo ficar entediante, auxiliada também pela boa edição de Nick Houy, que faz os cortes de uma cena para outra de forma ágil e precisa, embora o terço final do filme tenha ficado um pouco arrastado demais. Além disso, ela consegue fazer com que seus atores desempenhem seus papéis de forma bastante natural, mesmo com personagens um pouco complicados, como o pai da protagonista, vivido por Tracy Letts, que faz o possível para mostrar que está tudo bem em sua vida, mesmo quando não está, além de tentar ser o apaziguador dos confrontos entre a filha e a esposa.
O roteiro, também escrito por Gerwig, funciona bem especialmente nos diálogos bem construídos e em fazer os personagens principais não caírem na caricatura. Um bom exemplo disso é mostrar que Marion, embora seja uma pessoa pouco amável com a filha e de nem sempre dizer a ela a palavra certa quando precisa (acirrando ainda mais os conflitos entre as duas), ainda assim se revela uma mulher competente em seu trabalho e capaz de ajudar os outros. Isso faz com que o público nunca a veja como uma megera, mas sim alguém que tenta entender como lidar com as questões que nem sempre possuem respostas fáceis. A cineasta também ganha pontos ao não tornar Lady Bird uma garota somente com virtudes e mostra que, durante seu processo para se tornar uma adulta, é capaz de cometer erros nos quais nem sempre aprende a lição, como a maioria das pessoas no mundo.
Mas tirando essas qualidades, “Lady Bird – A Hora de Voar” apresenta poucas soluções criativas ou inovadoras que proporcionem um maior encantamento pelo filme. É claro que ele possa vir a causar uma identificação com espectadores que tiveram alguma questão em suas vidas semelhante à vivida pela jovem impetuosa em sua passagem para a vida adulta.
Só que, como já foi escrito lá no primeiro parágrafo deste texto, outros filmes já trataram melhor deste assunto, como “Quase 18”, que infelizmente não chegou aos cinemas brasileiros e foi lançado direto na TV a cabo, ou mesmo “Clube dos Cinco”, de John Hughes, considerado hoje um cult movie. Assim, as situações envolvendo a protagonista na escola, com seus amigos e namorados acabam caindo no lugar comum e são mais do que previsíveis, sem nenhum brilho pessoal.

Para fazer a personagem-título da maneira correta, não dá para pensar em nenhuma outra atriz que não Saoirse Ronan. Desde que foi revelada em “Desejo e Reparação”, em 2007, ela mostrou ter uma carreira com mais altos do que baixos e, aqui, mostra saber como tornar Lady Bird uma protagonista interessante mesmo com uma personalidade bastante controversa. Se ela não fosse talentosa o bastante, o filme corria sérios riscos de ficar ainda mais desinteressante.
O mesmo vale para Laurie Metcalf, que dá um show como Marion e dá vontade de vê-la em cena por mais tempo. Além disso, ela é responsável pela melhor sequência do filme, já em seu terço final. Outra que merece destaque é Beanie Feldstein, que vive Julie, a melhor amiga de Lady Bird com bastante simpatia. Já os atores Lucas Hedges e Timothée Chalamet (indicado ao Oscar por “Me Chame Pelo seu Nome”), que interpretam Danny e Kyle, interesses amorosos da jovem, estão apenas corretos e não são muito marcantes no filme.
“Lady Bird – A Hora de Voar” é, no fim das contas, um filme simpático e agradável, mas não vai muito além disso. Ele vale para mostrar que Greta Gerwig começou com o pé direito na direção de filmes. Mas fica a curiosidade de saber como ela vai se sair em seu próximo projeto, já que, por estar bastante familiarizada com o material, parecia já saber como conduzir a sua história. É preciso ver se ela vai evoluir para encarar produções mais complexas ou se estaciona no que já sabe fazer, algo que acontece com muitos realizadores. De qualquer maneira, vamos torcer para que ela amadureça e voe ainda mais alto em sua carreira. Como a sua querida Lady Bird.
Filme: Lady Bird – A Hora de Voar (Lady Bird)
Direção: Greta Gerwig
Elenco: Saoirse Ronan, Laurie Metcalf, Tracy Letts
Gênero: Comédia Dramática
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: Universal
Duração: 1h 34 min
Classificação: 14 anos

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