Criado por Edgar Rice Burroughs em 1912, Tarzan é um dos personagens mais adaptados para diversas mídias (cinema, TV, quadrinhos…) de todos os tempos. Sua primeira versão para a telona data de 1918, com Elmo Lincoln, e, desde então, teve várias encarnações, sendo a mais conhecida a de Johnny Weissmuller, embora podemos destacar também Lex Baxter, Gordon Scott, Mike Henry e Christopher Lambert.
Agora, chegou a vez do sueco Alexander Skarsgård ser a nova versão do Homem Macaco em “A Lenda de Tarzan” (“The Legend of Tarzan”, 2016), numa produção que procura agradar aos antigos fãs e criar novos com uma trama repleta de lutas e diversos efeitos especiais, do jeito que o público atual gosta.
Porém, o filme simplesmente não funciona graças a uma história ruim, uma direção pouco inspirada e um excesso de computação gráfica que deixa tudo artificial demais, deixando o resultado final nada menos que decepcionante.
Quando a história começa, vemos Tarzan (Alexander Skarsgård) já vivendo na Inglaterra como John Clayton III, Lorde de Greystoke, ao lado de sua amada Jane (Margot Robbie), longe da selva há muitos anos e tentando esquecer de seu passado. Um dia, ele é chamado a voltar ao Congo para servir como um adido comercial do Parlamento inglês.
Ele aceita após ser informado pelo americano George Washington Williams (Samuel L Jackson) de que há a possibilidade de que os nativos da região seriam escravizados pelos belgas para extrair suas riquezas. Assim, John, Jane e George viajam até uma vila bem conhecida pelo casal para investigar o que está acontecendo. Só que acabam vítimas de uma emboscada orquestrada por Leon Rom (Christoph Waltz), aliado do rei da Bélgica, que acaba sequestrando Jane.
John, junto com George, terá que usar tudo o que aprendeu durante seu período como Rei das Selvas para salvar sua esposa e lidar com questões do passado, que envolvem também o chefe Mbonga (Djimon Hounsou), aliado de Rom, que deseja acertar as contas com o Homem Macaco de uma vez por todas.
Inspirado numa série de quadrinhos da Dark Horse Comics, “A Lenda de Tarzan” sofre devido a vários erros facilmente encontrados no roteiro, escrito por Adam Cozad e Craig Brewer, que possui diálogos ridículos (num deles, por exemplo, Jane intimida o vilão ao dizer a frase “Seu bigode está menor do lado direito do que do esquerdo”), além de não resolver muito bem os conflitos internos do herói, que busca sua identidade entre a aristocracia britânica e a vida selvagem na qual foi criado, já que tudo é tratado de forma muito superficial.
Além disso, o personagem de Jackson aparece milagrosamente em várias sequências, mesmo quando é deixado para trás por Tarzan (já que não conhece bem a selva como o protagonista, algo lógico), para apenas surgir logo em seguida. Um erro que já foi detectado anteriormente em relação à onipresença de Lois Lane (Amy Adams) em “O Homem de Aço” e “Batman Vs Superman: A Origem da Justiça”, mas parece que os roteiristas ainda não sabem como corrigi-lo.
O britânico David Yates, responsável pelos quatro últimos filmes da saga de “Harry Potter”, não consegue, aqui, ser eficaz na direção, especialmente nas cenas de ação pouco inventivas e e nada empolgantes. Além disso, o cineasta erra num momento crucial para a mitologia do herói, quando ele dá seu famoso grito, mostrado de forma gratuita e decepcionante para quem é fã do Rei das Selvas.
Outro problema está na questão logística de alguns momentos da trama. Um exemplo disso é a fuga de uma personagem de um barco, já que os vilões, inexplicavelmente, encontram o local onde ela está muito rapidamente e sem maiores empecilhos.
Os efeitos especiais, responsáveis pela criação dos animais vistos no filme, falham em torná-los realistas, já que em nenhum momento o espectador vai acreditar que os atores estão interagindo com gorilas, leões e outras feras, ficando inferiores aos vistos nos dois novos capítulos da franquia “Planeta dos Macacos”.
A computação gráfica é usada de forma equivocada também nas cenas em que Tarzan balança nos cipós, que são montadas em alta velocidade para que o público não perceba que está diante de um personagem virtual. Mas uma pessoa mais atenta certamente perceberá o truque mal feito. Para piorar, um momento importante que envolve vários bichos lembra, e muito, uma sequência marcante do filme “Jumanji”, sendo que a produção estrelada pelo saudoso Robin Williams é ainda bem mais impactante, mesmo 21 anos depois.
A fraca direção de Yates acaba prejudicando também o trabalho do bom elenco. Alexander Skarsgård chama mais a atenção pela ótima forma física do que por seu talento dramático. Sua atuação como John/Tarzan é fria e pouco empolgante. Além disso, seus movimentos corporais são duros e robóticos demais, o que prejudicam a criação de uma empatia com o personagem.
Samuel L Jackson, embora competente como sempre, parece ter se esquecido que está num filme de época e age como se estivesse numa produção ambientada nos dias de hoje e só faltou soltar um palavrão em inglês no meio de suas falas.
A bela Margot Robbie pouco tem a fazer como Jane, embora tente dar relevância ao mostrar que ela não é uma típica donzela, com mais atitude do que as damas daquele período. Já Christoph Waltz parece estar no piloto automático em alguns momentos. Afinal, depois de fazer vários vilões após se consagrar em “Bastardos Inglórios”, parece que o ator já criou alguns maneirismos que considera necessários toda vez que tem que fazer o antagonista. Djimon Hounsou mais uma vez é desperdiçado com um personagem que não diz muito a que veio.
“A Lenda de Tarzan” é mais uma das muitas decepções que foram lançadas no cinema em 2016. Uma pena porque a criação de Burroughs ainda fascina milhões de pessoas pelo mundo com a história fascinante do homem que foi criado por macacos e se tornou o Rei das Selvas. As melhores versões ainda são, além das estreladas por Weissmuller, “Greystoke: A Lenda de Tarzan” (1984) e a animação da Disney “Tarzan” (1999), bem mais marcantes do que a atual. Talvez, no futuro, o Homem Macaco tenha mais sorte com novas (e superiores) produções sobre sua história que consegue atravessar os tempos com um vigor digno para poucos.
Filme: A Lenda de Tarzan (The Legend of Tarzan)
Direção: David Yates
Elenco: Alexander Skarsgård, Margot Robbie, Samuel L. Jackson, Christoph Waltz
Gênero: Aventura
País: Estados Unidos
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Warner Bros
Duração: 1h 50min
Classificação: 12 anos