Luzes na Escuridão

Pelo pouco que conheço dos filmes do diretor finlandês Aki Kaurismaki, percebo que ele gosta de rock, diálogos breves, pessoas estranhas e olhares desconfortáveis, apesar de não gostar muito de ver duas pessoas se encarando. Era inevitável que eu abrisse a crítica com essa frase, já que foi o pensamento que martelou minha cabeça pelos últimos 76 minutos.

Luzes na Escuridão é o terceiro filme de sua Trilogia de Helsinki, mostrando as vidas, ilusões e dissabores de cidadãos que vivem à margem da sociedade, com empregos e histórias de vida pouco amigáveis.

Koistinen é um ex-alcoolatra que trabalha como segurança noturno em um complexo de lojas em Helsinki. Ele não tem muitos amigos, nem sequer colegas. Por onde passa é rejeitado ou simplesmente ignorado. Sua vida não parece ir a lugar nenhum, mas ele é um sonhador e mantém firmes os seus planos de abrir a sua própria empresa de segurança e se mudar da cidade. Somente Aila, a dona de um quiosque de grelhados, lhe dá atenção, quando na verdade quer lhe dar muito mais porém, é Koistinen quem a rejeita. Ele então conhece Mirja, uma mulher bonita e totalmente diferente dos tipos que frequentam o mesmo lugar que ele. No momento em que os dois parecem se entrosar, apesar de todas as visíveis diferenças e idiossincrasias de Koistinen, ele está prestes a sentir na pele que a sua vidinha nada animadora pode ficar ruim, ir à pior e cada vez pior.

Assim como Napoleon (de Napoleon Dynamite), Koistinen é tão estranho e dramático como cômico. Também como Napoleon, essas características agrupadas me causaram um estranhamento num primeiro momento, que é contornado no decorrer do filme. Ele é só um cara ingênuo que ainda acredita no futuro, apesar de o futuro pouco dar bola para ele.

Apesar de ser o filme mais fraco da trilogia (encabeçada pelo excelente O Homem Sem Passado, de 2002), ainda assim considero o filme mais do que apenas uma curiosidade, é o aprofundamento do autor em seu assunto preferido da maneira mais apaixonada e sem floreios quanto possível. O diretor Kaurismaki, apesar de impiedoso, ama Koistinen e quer que nós o amemos também. O senso de humor contido na espiral vertiginosa que se torna a vida do personagem é único, arrastado e embaraçoso, mas reconfortante. Ainda assim, receio que chamá-lo de drama cômico (comédia dramática não é, de jeito algum) não me parece nada apropriado.

É, na verdade, difícil comparar o cinema do diretor com algum outro, para poder ilustrar melhor à alguém que nunca assistiu um de seus filmes. Os enquadramentos, os tempos mortos, a posição dos atores, a maneira como dialogam, as reações, tudo causa estranhamento à primeira vista.

Acho interessante que o filme esteja nas salas de cinema no Brasil, é sempre mais um longa fora do eixo Hollywood-França-Inglaterra que chega para somar e diversificar, mas ainda me pergunto por que estrear agora um filme produzido a mais de 4 anos (concorreu à Palma de Ouro e esteve no Festival do Rio, ambos em 2006), enquanto poderia dar o espaço a tantos outros filmes com tantos outros méritos diferentes. E não é como se Kaurismaki tivesse um significativo público cativo por aqui. É um diretor (infelizmente) para poucos.

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