Nunca desisti de M. Night Shyamalan. O problema é que ele mesmo quase desistiu de si. Depois de uma “tetralogia” sensacional – O Sexto Sentido, Corpo Fechado, Sinais e A Vila, todos muito, mas muito bons – uma mistura de ego inflado, arrogância artística e péssimas escolhas resultaram num recorrência de trabalhos medíocres. Inacreditavelmente medíocres. O fracasso amadurece e relativiza. Shyamalan passou a prescindir de status para continuar filmando. Nessa fase, entregou o divertido e bem feitinho A Visita e agora lança o seu “Fragmentado”.
Essa fase de filmes de baixo orçamento, tem renovado o vigor do diretor em criar seus universos alimentando apenas o que sua perspectiva (e talento!) precisa, e não exigências de estúdios. “Fragmentado” reafirma duas de suas principais habilidades: o manejo para um deslumbre fotográfico e a extrema construção dramática das cenas. Nisso, o longa é muito perspicaz.
O filme concentra-se em Kevin (James McAvoy ), um portador de 23 personalidades distintas que tem capacidade de alterar sua química corporal por meio do pensamento e passa a agir de maneira incontrolável. O grande lance é que existe uma 24ª identidade que ameaça emergir. Essa identidade é “a besta”. Um dia, ele sequestra três adolescentes que encontra em um estacionamento. Vivendo em cativeiro, elas passam a conhecer as diferentes facetas de Kevin e precisam encontrar algum meio de escapar.
O diretor sabe o que fazer com sua câmera para chegar onde precisa. Mas não posso deixar de apontar uma ponta de decepção com o desenvolvimento do roteiro, que vai da precisão psíquica de um personagem (McAvoy no papel e desempenho da sua vida) para a banalização de um pretensão.
Eu, fã confesso e conhecedor da obra do diretor, entendo a sina de Shyamalan em buscar a virada final de seu filme ou surpreender com algum lapso de originalidade na narrativa. Mas nesse caso, o diretor deixou muito aparente a necessidade de surpreender, para além do que o roteiro precisa. Tanto que a ligação com Corpo Fechado se valida mais por uma cena bem específica do que pela progressão dramática da história em si. Nunca desisti de M. Night Shyamalan. E, mesmo não estabelecendo tanta propriedade sobre suas próprias habilidades nesse longa, ele tem se movimentado para reforçar essa crença.
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