"Maria Madalena" tenta timidamente reparar um mal entendido

Maria Madalena é uma figura bastante controversa dentro do Cristianismo. Como pouco se sabe sobre ela, por séculos o patriarcado tratou de turvar sua história. Durante muito tempo era colocada como uma prostituta redimida por Cristo, e posteriormente até teve sua importante função de apóstolo cogitada. Mas quando se falava em reconhecer, havia hesitação. Essa importância foi ganhando força nos últimos anos e chegou aos cinemas. “Maria Madalena” (Mary Magdalene, Reino Unido/2018) vem com a proposta de adequar essa mulher à sua devida relevância. No entanto, ficou apenas no meio do caminho.
Em princípio, a trama tenta esclarecer a incompreendidas e enigmática trajetória de Maria Madalena, vivida por Rooney Mara. Em busca de um caminho diferente do que lhe fora traçado, a jovem pescadora rompe com a sociedade, sua família e o machismo vigente e junta-se a Jesus de Nazaré (Joaquin Phoenix), tornando-se fundamental na missão de difundir a fé.
A construção da personagem principal, tanto da atriz quanto por parte da direção é inegavelmente bela. E também um grande desafio, pela falta de material que servisse como matriz. No entanto, em um filme que leva seu nome, Maria Madalena merecia no mínimo mais protagonismo. Ele até é evidente no primeiro terço do longa. Quando Jesus entra em cena, a personagem acaba se tornando uma espectadora/contadora da história mais famosa do mundo. Então seria mais adequado que o roteiro assinado por Helen Edmundson (estreando no cinema) e Phillipa Goslet se chamasse “O Evangelho Segundo Maria Madalena”.

A direção de Garth Davis, em seu primeiro trabalho após o indicado ao Oscar de Melhor Filme “Lion: Uma Jornada para Casa”, é de fato o trunfo do longa. Amparado pela agreste fotografia de Greig Fraser (de Rogue One e A Hora Mais Escura), ele acerta na proposta de uma experiência de cunho sensorial. Sua câmera documental transporta o espectador para o eixo de cena. Sua releitura da passagem bíblica aposta em um realismo com matizes poéticos. Diferente do tom épico de Nicholas Ray em “Rei dos Reis” ou da crueza de Mel Gibson com seu “A Paixão de Cristo”.
O rosto esfingético de Rooney Mara se coaduna inteiramente com o mistério no que está envolta a trajetória da evangelista. O minimalismo da atuação entra em sintonia com o tom pretendido pela direção para a narrativa. Nesse ponto, Joaquin Phoenix também acerta como um Jesus humano.

É inegável que “Maria Madalena” é uma produção bem realizada com uma proposta artística pertinente. Mas esperava-se um pouco mais de ousadia na abordagem do tema, ainda mais pelo fato de o script ter a autoria de duas mulheres. Reconhecida como evangelista apenas em 2016, a santa merecia um enfoque mais pungente nessa que se pretende como sua cinebiografia definitiva. A reparação de um mal entendido bíblico acabou sendo tímida.
Filme: Maria Madalena (Mary Magdalene)
Direção: Garth Davis
Elenco: Rooney Mara, Joaquin Phoenix, Chiwetel Ejiofor
Gênero: Drama Bíblico
País: Reino Unido
Ano de produção: 2018
Distribuidora: Universal Pictures
Duração: 1h 59 min
Classificação: 12 anos

Sair da versão mobile