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A Mentira

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“Isso é bem inovador, não? Uma colegial se sentindo anônima. Quem eu sou? O que significa isso tudo? Por que estou aqui? Mas não esquentem, esta história é diferente.” Assim Olive nos apresenta o filme A Mentira (Easy A), do diretor Will Gluck.

Será mesmo? É uma prática  recorrente usar de metalinguagem para mostrar que o roteirista sabe exatamente onde sua história se encontra e que conseguiu usar apenas os melhores elementos do gênero em questão para se destacar e não ser um mais do mesmo.

O filme nos apresenta Olive (Emma Stone), uma adolescente bem resolvida e que tenta não ser um clichê ambulante: não tem baixo auto-estima, não tenta namorar o garoto mais popular da escola, é inteligente sem ser uma nerd e não tropeça em si mesma quando anda. Para não ir passar o fim de semana com sua melhor amiga e os pais pouco convencionais dela, Olive inventa que sairá com um cara de uma faculdade. Quando voltam do fim de semana, Olive reafirma toda a história de como foi seu encontro com o tal carinha para a amiga, que deduz que Olive perdeu sua virgindade. Só que Marianne, a beata do colégio (Amanda Bynes, numa versão ruim da Hilary Faye, de Mandy Moore, do filme Galera do mal) escuta toda a conversa e a suposta perda da virgindade de Olive cai na boca do colégio inteiro antes mesmo que ela vá para a sala de aula. A partir daí, Olive começa a ser notada e popular.

Mas apesar de todos a acharem promíscua, ela não é. Dai que vem a grande idéia de seu colega Brandon, que é gay e sofre bullying todos os dias na escola por isso: eles poderiam fingir que sairam juntos para acabar com o inferno cotidiano dele. Seria como a mentira que está espalhada pela escola e a reputação deles estaria garantida. O problema é quando outras pessoas precisam do mesmo favor.

Na aula de Inglês (ou literatura) a turma de Olive está estudando o livro A letra Escarlate, de Nathaniel Harthorne, livro que corresponde perfeitamente ao que ela está passando (ou quase). Por isso, como forma de protesto, Olive começa a andar com a letra A em vermelho no peito, como a personagem do livro foi obrigada a fazer por ser acusada e condenada por adultério. Olive, por sua vez, não era adultera, mas fora condenada injustamente, pois todos tinham um opinião dela que não era verdadeira. Engraçado como ela diz que isso sempre acontece: o que você está lendo para aula tem sempre a ver com o que está acontecendo com a sua vida. Esse é um clichê que quase todos os filmes que possuem uma sala de aula: o livro estudado sempre tem algo para dizer ao personagem!!

O roteiro é ágil e sincero. No começo, a personagem diz que sua história é cheia de clichês. O que é verdade, mas isso não tira o mérito do filme, que é divertido e inteligente. Um ponto alto são as referências a filme dos anos 80. Quando Olive está pensando em como está sendo tratada pelos garotos da escola e expressa o desejo de ser tratada como nos filmes dos anos 80 e aparecem cenas dos filmes e atores que ela cita:

“Onde foi parar o cavalheirismo? Só existe nos filmes dos anos 80? Quero John Cusack segurando um toca-fitas na minha janela. Quero fugir num cortador de grama com Patrick Dempsey. Quero Jake de Gatinhas e Gatões me esperando na porta da igreja. Quero Judd Nelson erguendo o punho…porque ele sabe que me conquistou. Só uma vez, quero que minha vida seja como um filme dos anos 80. De preferência, com um número musical maravilhoso sem motivo aparente. Mas, não. Não. John Hughes não dirigiu minha vida.”

O filme mostra que mesmo quem está fora do “sistema de castas” que existe no highschool norte-americano acaba sendo envolvido, como Olive, que não tinha problema em não ser popular mas, por uma mentira, se vê envolvida em um grande esquema que começa a influenciar toda sua vida. E lembra como são frágeis os ânimos da grande maioria dos adolescentes norte-americanos que mudam de opinião sobre o caráter e personalidade de uma pessoa baseados em fofocas ou rumores.

No elenco tem algumas caras bem conhecidas, como Cam Gigandet, que interpreta Micah, o namorado de Marianne, que foi o James de Crepúsculo; Lisa Kudrow (ótima) fazendo a conselheira da escola, mas Phoebe do que nunca; Malcom McDowell como o diretor da escola; Penn Badgley, de Gossip Girl, e Patricia Clarkson e Stanley Tucci como os pais de Olive, os diálogos dos dois com a filha são ótimos .

O filme lembra muito Meninas Malvadas: duas meninas que se sentem bem fora do status quo da escola e que são engolidas por ele e tem que arrumar as coisas para poder pular para fora e voltar à sua vida normal.

Filme engraçado e inteligente. Uma boa comédia. Só não é um filme de John Hughes

[xrr rating=3.5/5]

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