Tem que ser muito Meryl Streep para fazer de um filme apenas mediano, um veículo para, não só tornar uma figura política mundial, assunto para as novas gerações, como quebrar um jejum de anos e render mais um Oscar de Melhor Atriz. Merryl é talvez, única unanimidade entre as atrizes vivas do planeta.
A Dama de Ferro mostra Margareth Thatcher (Streep) já idosa e com o Mal de Alzheimer. Ela reluta para aceitar as limitações da idade e se recusa a admitir que as conversas com o marido, Denis (Jim Broadbent, excelente), são delírios causados pela doença. Num exercício de conformismo, a estadista se prende às glórias do passado com fotos e vídeos. Assim, suas trajetórias política e pessoal são contadas em paralelo com a da Inglaterra.
Primeira mulher a chefiar um partido político, e seus anos de mandado resultaram em uma ascensão e queda vertiginosa de sua figura pública. Dona de um olhar e métodos notadamente rígidos na economia, ela conduziu a Ilha em meio à recessão e crise do petróleo, encarou e venceu a polêmica Guerra das Malvinas para reafirmar a supremacia britânica perante aos colegas de partido e para manter seu apoio político. Era amiga de Ronald Reagan e fazia duras críticas a União Soviética, numa sucessão de intransigências que cunhou o termo Dama de Ferro.
A direção de Phyllida Lloyd se prende muito a debilidade senil de Thatcher, o que confere a biografia uma espécie de apelo á (oportuna) figura humana da mulher por trás da política. Mas aí é que está a questão: para uma mulher que viveu a vida que viveu e tomou as decisões que tomou (muitas delas sob normas éticas próprias e questionáveis!), fazer uma biografia em que a relação de memória é mais forte que a trajetória em si, é no mínimo, uma tolice. Assim como J. Edgar, de Clint Eastwood, o filme erra na abordagem do “mito” e diminui muito as possibilidades narrativas de evocação do biografado.
Mas A Dama de Ferro conta com uma atuação extraordinária de Meryl, que capta não os arquétipos de Thatcher, mas as nuances universais de senilidade de uma mulher que carrega nos traços um história de vida um tanto épico. Isso sem contar a propriedade com que estabelece as diferentes fases de vida da Primeira Ministra. Adjetivar positivamente uma interpretação da atriz é tão lugar comum quanto escrever aqui que se trata de uma grande atriz, pois foi pelo superlativo de Meryl que o filme encontra algum sentido para além de um “telefilme” bem feitinho e com alguma informação histórica.
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