Este é o melhor filme que eu já assisti e provavelmente morrerei dizendo isso, afinal de contas poucos são aqueles que assistem esse filme e percebem claramente todas as nuances que Ridley Scott nos trouxe neste belo filme de 1982.
A beleza do filme aparece já em seus primeiros minutos, tanto visualmente quanto musicalmente. Vemos na abertura uma abordagem minimalista do elenco e da história que nos levou àquele ponto na narrativa.
Daqui em diante, eu vou postar alguns vídeos com a fantástica trilha criada pelo compositor grego Evangelos Odysseas Papathanassiou (Vangelis), mas não vejo necessidade de assistir a todos eles, afinal, o que interessa é a música aqui.
Um grupo de Replicantes (andróides quase humanos) foge de uma colônia extra-terrestre (fora da Terra) e vem parar aqui, em 2019. Há um grupo de policiais aqui que os caçam, conhecidos meramente como Blade Runners.
Tais Replicantes tem uma vida curta, apenas quatro anos, o que faz carecer de uma reação emocional normal e um certo desejo por uma vida mais extensa.
Deckard (Harrison Ford) é um ex-Blade Runner que é posto de volta à ativa para caçar e “aposentar” os Replicantes fugitivos.
Vemos então a investigação de Deckard e posterior caçada aos Replicantes fugitivos, culminando com a melhor cena da história do cinema, em que, no confronto entre Deckard e Roy (Rutger Hauer), líder dos Replicantes, vemos que até mesmo uma máquina fria e insensível se dá ao direito de morrer dignamente, como um ser humano de verdade.
Eu não saberia nem começar a falar de todos os detalhes e implicâncias filosóficas que esse filme nos traz. A análise da vida do ser humano, dos nossos desejos mais básicos, dos medos e incertezas, todos estampados conforme acompanhamos esses últimos dias de vida dos Replicantes.
Roy é o mais desejoso por uma extensão de sua vida e o faz por amor e por medo, como nós humanos. Amor a Pris (Darryl Hanna), outra replicante e medo de deixar para trás tudo aquilo que ele fez sem o sentimento de dever cumprido, sempre querendo mais, isso me lembra uma certa raça que domina este planeta.
Ainda temos de analisar a questão de Deckard, afinal, por muitos anos, os fãs ficaram encucados se ele seria ou não um Replicante também. Com a versão do diretor lançada na década de 90, essa resposta foi dada com uma sequência de sonho em que ele vê um unicórnio correndo pela floresta, implicando que suas memórias teriam sido inseridas nele em razão do unicórnio de origami que Gaff deixa em seu apartamento perto do final.
Aqui entramos em uma nova esfera de conhecimento. Analisando aquela cena de abertura minimalista que eu postei lá em cima, vê-se que temos pouquíssimas informações, é quase como se tivéssemos acordado um dia sem memórias e nos dessem essa informação.
A todo momento em que vemos um Replicante na tela, seus olhos refletem como se suas íris fossem avermelhadas gerando um brilho. Todo replicante do filme tem essa característica, tanto que o primeiro engenheiro genético a ser visitado por Roy é aquele que fazia os olhos dos replicantes. As dicas estão no filme, basta aprender a vê-las.
Quer mais? Somos informados que os replicantes gostam de guardar fotos. Deckard tem fotos aos montes em cima de um piano em seu apartamento. Além disso, a falta de experiência emocional faz com que ele, ao pressionar Rachel, faça de uma forma violenta e carinhosa ao mesmo tempo. Veja a cena abaixo ao som do tema romântico do filme.
Falando em Rachel, a replicante é quem mais sofre durante todo filme, afinal, antes de conhecer Deckard ela era apenas a sobrinha de Tyrrell e depois que descobre que é uma das criações de seu “tio”, ela acaba abandonando tudo que tinha e se aproxima de Deckard.
Sean Young interpretou Rachel como poucas saberiam fazer. O seu inicial ar de superioridade acaba caindo logo após descobrir sua identidade verdadeira e o que sobra é mais que uma replicante, mas ainda, menos que uma humana normal.
Essa música que está acima se chama Rachel’s Song e nunca foi usada no filme, estando apenas na versão completa da trilha, mas com certeza é muito bonita e cria a ambientação correta para a personagem.
Agora, quem mais surpreendeu foi realmente Rutger Hauer. Roy é uma mistura de infante e soldado. É o que há de pior na raiva humana e no desespero pela vida, o desapego com as coisas mais básicas como amor mostram isso. Sua relação com Pris é superficial, mas, conforme ele se conscientiza de sua realidade, de que a morte se aproxima, ele começa a rever sua vida.
Então chegamos a cena final do confronto entre Deckard e Roy e aqui vemos mais uma sacada fantástica do diretor: Deckard não tem falas.
Essa cena é com certeza uma das mais fortes da história do cinema. Poucas vezes umas poucas falas foram tão bem lançadas. O olhar de Roy para Deckard à beira do abismo mostra seu lado sombrio, o sádico vendo o sofrimento que ele passou refletido naquele que causou isso. É um final digno e demonstra a sensibilidade do elenco e equipe técnica.
O termo Blade Runner não tem nada a ver com a história na qual os roteiristas Hampton Fancher e David Webb Peoples se basearam (Do Androids Dream of Electric Sheep? de Phillip K. Dick). Em verdade, o nome veio de outro roteiro, escrito por William S. Burroughs baseado este sim em um livro chamado The Bladerunner de Alan Nourse. Nele, Nourse descreve um Bladerunner como sendo uma pessoa que vende instrumentos cirurgicos ilegalmente. Ridley Scott comprou os direitos do nome, mas não os do livro e nem do roteiro de William S. Burroughs.
O visual futurista do filme foi criado pelo mago dos efeitos Syd Mead que trabalhou em tudo quanto é filme de ficção científica feito na década de 80, desde Jornada nas Estrelas à Aliens.
Eu não consigo parar de recomendar esse filme a toda e qualquer pessoa pelas simples razão deste ser, para mim, o melhor filme já feito em tudo quanto é aspecto que se possa prezar. Até hoje os efeitos visuais são fantásticos com o uso de maquetes e miniaturas em escala para criar as panorâmicas da cidade futurista. A trilha é primorosa do começo ao fim.
Ridley Scott fez desse filme o que ele é graças a seu fantástico elenco e equipe técnica. Todos sabemos de sua capacidade como diretor, mas não fosse este filme, talvez as portas para filmes como Alien, Exterminador do Futuro e outros nunca tivesse sido aberta.
J.R. Dib
Revi a final cut hj
amo isso
Não canso de assistir este filme, qualquer um, com um pouco de
sensibilidade reflexiva e estética não pode ignorar essa obra prima. E a
cena final entre Deckard e Roy é a mais admirável e a mais clara
reflexão sobre o conceito de “humanidade” e se algum dia ela teve algum
significado realmente, acho que essa cena é também um dos raros momentos
da vida que mais se chegou perto, e não foi dada por um ser humano mas
por um “replicante