Nasce Uma Estrela é daqueles filmes que a gente fica o tempo todo com a sensação de saber por onde estamos trafegando. Ajuda o fato de ser a quarta versão de uma história muito conhecida, além de ser aqueles romances fronteiriços, no limite do açucarado. Mas aí é que está: o que Bradley Cooper, Lady Gaga e o diretor de fotografia, Matthew Libatique mimetizam nesse filme é de uma grandeza técnica e emocional bem surpreendente, sobretudo por ser o primeiro filme dirigido por Cooper e a primeira protagonista de Gaga.
O resultado é muito “de verdade”, com um verniz indie que tanto ambienta os bastidores do showbizz musical – em que a câmera de Libatique (que vem a ser o mesmo fotógrafo da obra-prima Cisne Negro) assume uma personalidade meio documental, inquieta, acampando as perspectivas de backstage – assim como a maneira como Cooper constrói o romance dos protagonistas, num diapasão de sensibilidade muito espontâneo, já que a química entre os dois é absoluta.
A gente acredita na relação, até em suas controvérsias, sendo catapultado por ela. Muito pelas atuações dele (numa maturidade cênica interessante) e dela, que traz muita personalidade de interpretação, quase que num misto de instinto e construção.
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Assim, quando os conflitos começam a emergir, estamos tão envolvidos com os dois que eles saltam na tela de maneira orgânica. E o roteiro é o grande responsável por humanizar a trama e dar propriedade e originalidade para a história para além de sua previsibilidade prévia. Tanto que os coadjuvantes, mais do que ajudar a contar a história, são primordiais para adensa-la (destaque para as participações de Sam Elliott e Dave Lachapelle). Assim como as canções – quase todas, belas composições de Gaga – que têm a contextualização de um musical, mas que impõe a exata dramaticidade que o filme precisa, ou sintetiza. Como no belo e realmente emocionante final.
De todas as versões, a terceira e mais lembrada é a de 1977, com Barbra Streisand. Muitos dizem que vem a ser a melhor versão. A atual pode não ser melhor ou pior, mas tem mais personalidade.
Com todas as músicas gravadas ao vivo, acompanhamos a história de Ally (Gaga), uma aspirante a artista que é descoberta por Jackson Maine (Cooper), um músico famoso que se apaixona por ela e a incentiva a mostrar seu talento para o mundo. Essa relação é corroída pelos extremos pessoais dele em confronto com a ascensão profissional dela. O ponto nevrálgico está no sentimento que os complementam. aí está inclusive o poder do filme em si.
Nasce Uma Estrela é forte, é crível, é profundo. E por muitas razões. O certo era o título vir no plural, com Bradley emergindo como um diretor de cinema muito interessante e interessado (sua interpretação é brilhante também, mas ele fez um filme para si, inclusive pelos generosos closes de camera), e Lady Gaga como uma atriz de recursos e maneirismos próprios. E pensar que comecei o filme achando que sabia onde estava trafegando…
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