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“O Apartamento” e o ínterim entre honra e dignidade

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Quando os créditos finais de O Apartamento começaram a subir, eu estava exausto. Psicologicamente exaurido. O exercício de empatia exigido pela trama do novo filme do primoroso diretor iraniano Asghard Farhadi, é constante. E esse é o diferencial mais claro que o seu cinema proporciona, como vimos em seus excelentes filmes anteriores, como O Passado e A Separação.

Em seu novo longa, premiado em Cannes e candidato natural do Irã para o Oscar, Farhadi fala sobre as complexidades implícitas na noção do que se entende como honra, no espectro de sua cultura iraniana ou simplesmente, dignidade, na tangência ocidental. As fragilidades do termo são muito bem exploradas pelo (ótimo) roteiro, quando o protagonista (Shahab Hosseini, irretocável) se vê absorto na angústia de descobrir quem invadiu seu apartamento e abusou de sua esposa. Ele é um dublê de ator e professor.

Na peça dentro do filme, ele integra um grupo que monta A morte do caixeiro viajante, de Arthur Miller. Ocorre um problema no prédio onde mora com a mulher. O casal se muda para o apartamento oferecido por um amigo. A moradora anterior era uma prostituta. Um antigo cliente tenta invadir a casa. Não sabemos o que de fato aconteceu. Estupro? Nessa perturbação cotidiana, o marido resolve se vingar.

Não espere caminhos fáceis nos filmes do diretor. O desenvolvimento desse conflito se dá por arestas tão humanas quanto perturbadoras. Tanto que quando chega na parte final da trama, já não dominamos mais nossa complacência por aqueles personagens, e nos vemos envolvidos num conflito demasiadamente humano, para além de juízos de valor. Esse é o grande talento de Farhadi: espelhar nos seus personagens nossas próprias fragilidades. Saí do cinema exausto. E fascinado em ver como o cinema iraniano sempre consegue ser mais universal que sua própria realidade.

Filme: O Apartamento (Forushande)
Direção: Asghard Farhadi
Elenco: Shahab Hosseini, Taraneh Alidoosti, Babak Karimi
Gênero: Drama
País: Irã
Ano de produção: 2016
Distribuidora: Pandora Filmes
Duração: 2h 03min
Classificação: 12 anos

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Por
Cadorno Teles -

Cearense de Amontada, um apaixonado pelo conhecimento, licenciado em Ciências Biológicas e em Física, Historiador de formação, idealizador da Biblioteca Canto do Piririguá. Membro do NALAP e do Conselho Editorial da Kawo Kabiyesile, mestre de RPG em vários sistemas, ler e assiste de tudo.

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