O escritor Edgar Allan Poe se tornou famoso por suas obras de suspense e horror, como os livros “Assassinatos na Rua Morgue” , “Histótrias Extraordinárias” e “A Máscara da Morte Vermelha”. Sua vida foi tão sinistra quanto seus textos e, antes de morrer em 1849, em Baltimore (EUA), foi encontrado dizendo coisas desconexas num banco de uma praça, sendo um mistério até hoje não desvendado. A partir desse episódio, veio o argumento de “O Corvo” (The Raven, 2012), cujo título vem do poema mais conhecido do autor. O problema é que o filme toma liberdades demais sobre os fatos que ocorreram e tenta reinventar a história, como fez, por exemplo, Quentin Tarantino em “Bastardos Inglórios”. Mas sem o mesmo sucesso.
A produção mostra Poe (John Cusack, que assumiu o papel que seria de Ewan McGreggor) como um homem beberrão que está sem dinheiro, pois tem dificuldade para que seus textos sejam publicados nos jornais. Mesmo assim, ele conquista o coração da bela Emily Hamilton (Alice Eve, de “Território Restrito” e “Homens de Preto 3”), que está louca para casar com ele, para desgosto do pai, vivido por Brendan Gleeson, de “Harry Potter e o Cálice de Fogo” e “Na Mira do Chefe”. Mas as coisas pioram depois que surge um serial killer que usa os textos de Poe como inspiração para cometer uma série de assassinatos elaborados. O detetive Fields, investigador do caso (Luke Evans, de “Imortais” e “O Hobbit: Uma Viagem Inesperada”), nota as semelhanças e pede a ajuda do escritor para pegar o assassino. A princípio relutante, Edgar acaba se envolvendo ainda mais com a perseguição depois que Emily é sequestrada pelo criminoso.
“O Corvo” procura pegar carona em filmes como “Sherlock Holmes” e, especialmente, em “Do Inferno”, que foi baseado nos quadrinhos de Alan Moore sobre Jack, o Estripador. A ambientação, aliás, é muito semelhante à da produção estrelada por Johnny Depp, em 2001, embora àquela trama se passasse na Inglaterra e esta nos EUA, o que causa certa estranheza. Além disso, Luke Evans não tem o carisma do astro de “Piratas do Caribe” e torna o seu personagem muito linear e sem graça. Outro problema está no suspense da trama, que praticamente não existe, em parte pela direção pouco inspirada do diretor James McTeigue (de “V de Vingança” e “Ninja Assassino”). No entanto, os assassinatos são bem feitos, embora isso fosse o esperado para uma produção de Hollywood.
Mas o mais decepcionante de “O Corvo” está no Edgar Allan Poe em pessoa, ou melhor, John Cusack. O ator, que se tornou destaque com boas interpretações em filmes como “Alta Fidelidade” e “Quero Ser John Malkovich”, está totalmente caricato em sua composição, não mostrando claramente as angústias que o escritor vivia. Em alguns momentos, ele usa um sarcasmo que funcionaria bem nas comédias que fazem parte da sua carreira, mas não é adequado para um filme de suspense. O resto do elenco também não tem grandes destaques e há desperdícios de atores, como Brendan Gleeson. Além disso, o roteiro falha ao tentar fazer algum tipo de humor. Numa cena, por exemplo, Poe diz que se soubesse que seus contos inspirariam um assassino, ele teria se dedicado mais ao erotismo.
Quem for ver “O Corvo” esperando ver uma boa trama que procura esclarecer, ainda que de forma ficcional, o que realmente aconteceu com Edgar Allan Poe pode se decepcionar. Quem não liga muito para isso, ou mesmo não conhece a importância do escritor para a literatura e só quer saber de assistir mais um filme de suspense pode até gostar.
Mas com certeza Poe merecia algo melhor.
[xrr rating=2.5/5]
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