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O discurso pelo discurso em “O Homem da Máfia”

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Quando assisti O assassinato de Jesse James pelo covarde John Ford saí do cinema intrigado com a belíssima plasticidade do filme quase em detrimento de sua trama. Era impossível não perceber que o diretor australiano Andrew Dominik se valia muito da pretensão do primeiro grande filme para contar aquela história que prometia (e ilustrava) muito mais do que propriamente estabelecia uma dramaturgia efetiva sobre aquele fato.

Agora, em seu novo filme Um homem da Máfia, título medíocre para o irônico Killing Then Softly (título original), o diretor parece fazer de seu equívoco uma espécie de estética própria.

Dois criminosos um tanto ordinários planejam assaltar uma casa de apostas de carteados. Eles acreditam que a culpa do roubo cairia para o próprio gerente do local, que já havia se envolvido numa jogada parecida anteriormente. Os mafiosos que controlam o negócio de jogatina contratam Jack (Brad Pitt) para descobrir os verdadeiros culpados e executá-los. O trabalho fica mais complexo porque os mafiosos são idiossincráticos em suas decisões, tornando tudo ainda mais inesperado.

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O filme tem planos lindíssimos (uma execução num carro ganha uma beleza poética) e uma grande ênfase no discurso a cerca do caos econômico com que a America se aturdiu como herança direta do governo Bush. Para tanto a esperança é relativizada por discursos televisionados do então recém empossado Barack Obama, refletidos (metaforicamente ou não  nos ótimos diálogos que vão inflamando a narrativa. Aí é que entra o estranho maneirismo de Dominik: parece que todo o filme foi feito para que o discurso seja estabelecido, ou seja, a dramaturgia acaba ficando em gritante segundo plano numa irregular construção narrativa. Tanto que no feérico dialogo/cena final somos impactados pelo peso cínico do raciocínio do personagem de Pitt, mas a sensação de deslocamento do conjunto apresentado até ali, no âmbito espacial do trama, é gritante.

O elenco é muito bom contando com Brad Pitt cada vez mais bem sucedido na missão de recriação de sua imagem, além de performances notáveis de atores como Ray Liotta (em franco reconhecimento de seu valor), Richard Jenkins e James Gandolfini (hilário). Tudo muito bem burilado para que o discurso final seja efetivo… Uma pena que o artificialismo dessa estratégia tire muito do peso de seu objetivo. Reflexão sem necessariamente assimilação.

[xrr rating=3/5]

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