O Paradoxo de Inception (A Origem)

Muita gente vêm discutindo as inúmeras teorias a respeito do filme “A Origem“, o qual eu irei citar daqui em frente em seu nome original, qual seja, “Inception” em razão do nome original ter a ver com o que ocorre na tela, ao contrário do inexpressivo nome escolhido na versão brasileira.

O filme é uma aventura na mente humana, possibilitando uma série de interpretações dos espectadores. Ao espectador distraído, Inception não passa de um filme de ação que se passa na arquitetura da mente, mostrando o que um grupo de extratores (termo usado no filme para designar profissionais que invadem a mente e roubam segredos) faz quando é necessário que uma idéia seja inserida (Inception = Inserção) na mente de um alvo.

Aqui termina o que está acima da superfície, abaixo se esconde um enorme iceberg que muda de forma a cada vez que se assiste o filme. Primeiro porque o filme cria no espectador aquela sensação de que há muito mais escondido em cada canto, possibilitando interpretações que variam desde a total imersão em um sonho até a mais simplória, de que tudo é como simplesmente está sendo passado, sem qualquer possibilidade de interpretação.

Quando a missão de Inserção está em planejamento, a personagem de Ariadne (Elle Page) é levada até uma escada Penrose, que é considerada um objeto impossível de existir onde, dependendo do ângulo que se olha, está se subindo ou descendo, chegando a um ponto em que ela não existe, ou seja, criando um paradoxo. A imagem abaixo mostra um dos primeiros desenhos envolvendo uma escada Penrose por M. C. Escher no desenho “Ascending and Descending”.

O paradoxo do objeto impossível é repetido em diversos momentos do filme, seja criando labirintos que os extratores podem usar para despistar o sonhador e suas projeções, seja para manipular o mundo de forma a facilitar a vida dos invasores. Em dado momento, verifica-se que a edição nos empurra e puxa para alguns pontos fulcrais, como que lapsos de memória indo e vindo. O diretor Christopher Nolan é especialista neste tipo de edição, na sua filmografia estão Amnésia e Insônia, dois filmes que tratam sobre lapsos de memória. Aqui, em Inception, os lapsos parecem se confundir com um paradoxo infinito.

Tudo começa com Cobb (Leonardo DiCaprio) jogado na praia, sendo levado até um velho chamado Saito (Ken Watanabe), perdido em um sonho por dezenas de anos. Logo em seguida, vemos Saito, mais novo, recebendo a visita de Cobb e Arthur (Joseph Gordon-Levitt), oferecendo seus serviços de extratores. Porém, a missão dos dois é extrair segredos de Saito para uma empresa chamada Cobol Engenharia. Eles falham quando Saito descobre que está em um sonho, porém são contratados por ele para que insirem uma idéia na mente do filho do dono do maior conglomerado de energia do mundo. A idéia é dividir tudo quando o pai morresse.

Juntar a equipe leva Cobb e Arthur à Paris e Mombaça, juntando a arquiteta Ariadne com o personificador Eames (Tom Hardy) e o químico Yussuf (Dileep Rao). Perseguições e tiroteios perseguem Cobb enquanto ele luta por sua vida e a esperança de poder reencontrar os filhos depois que se auto exilou após a morte da esposa.

Falando na esposa, seu nome é Mal (Marion Cottilard). Em francês, temos a palavra Mauvais que significa maldosa. Mal fica na mente de Cobb, presa em seu subconciente, e atrapalhando seus atos e planos, querendo expor a ele o quanto tudo aquilo que ele está fazendo é inútil. Mal é o subconsciente de Cobb, ela é aquela voz que o condena por tudo que ele fez e irá o atacar sempre que possível para poder tê-lo consigo. Ela quer seu bem, mas para isso faz o mal. Mais um paradoxo.

Em verdade, o filme flutua por cima de si mesmo. Do momento em que os sonhos de Robert Fischer (Cillian Murphy) são invadidos até o final totalmente feliz, o que se tem é uma espécie de interconexão. Ao que parece, o filme é uma escada Penrose cinemática porque pode muito bem te levar a algum lugar quanto pode muito bem não te levar a lugar algum. Aqueles que gostam de finais felizes terão um final feliz (quase pelo menos), já aqueles que acham que essa cebola tem muito mais camadas do que se aparenta, verão as camadas sobrepostas, como sonhos dentro de sonhos.

Ao meu ver, a grande questão deixada por Nolan é questionar se tudo não passa de um sonho interminável ou, caso não seja, quando realmente começa o sonho, quando o que se assiste é realidade e quando é o subconsciente, e de quem poderia ser. Mas fica para cada um poder vislumbrar tais detalhes, estas perguntas deixadas no texto para assistir o filme com novos olhos, e não apenas acreditando que seja mais uma bobagem de Hollywood. E há mais labirintos e escadarias a serem descobertos, escondidos sob camadas e camadas de informações. O espectador é treinado para deixar passar os detalhes, ver e rever um filme ajuda a pegar os detalhes perdidos como por exemplo a quantidade de números 13 escondidos na tela ou a última fala do filho de Cobb, sobre uma casa no penhasco.

Assistindo o filme por amor ao cinema, ou pela mera diversão, Inception irá trazer a todos um ótimo divertimento.

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