Para além de ser um veículo para Nicole Kidman performar em premiações – quase vinte anos depois do Oscar pela atuação em As Horas – O Peso do Passado (nome brasileiro rasteiro para o original Destroyer) é também um filme muito melhor que a preguiça que pode provocar pela sua pretensão.
A atriz incorpora Erin Bell, uma detetive amargurada e solitária. Por um erro de cálculo em uma longa operação conjunta com o FBI quando era uma jovem policial de Los Angeles, Erin colocou em risco sua vida e a do agente Chris (Sebastian Stan). Para piorar sua situação, o alvo principal, Silas (Toby Kebbell), escapou ileso. Desde então, Bell carrega uma culpa que vem corroendo seu psicológico. Quando Silas volta à ativa, a policial fica obcecada por sua captura, o que acaba reverberando para consequências direta do seu passado.
A caracterização pesada pode atrapalhar um pouco. No entanto, Kidman constrói bem sua personagem para torná-la crível dentro de seus abismos. E que não são poucos nessa trama que acaba se revelando competentemente engenhosa. Basta dizer que as pontas soltas do início se coligam no final de maneira surpreendente.
Talvez no afã de reforçar muito a dureza que sua personagem se tornou, a diretora Karyn Kusama pese a mão além da necessidade ali pelo segundo ato. Mas o roteiro recupera seu vigor e a coesão dramática ao justificar os atos da protagonista, introjetando sentido em sua necessidade de reforçar a forma sob algum conceito que o valha.