Sem muitos arroubos por parte da crítica especializada, “RoboCop” chega aos cinemas nesta Sexta-feira para mostrar que alguns filmes merecem sim um remake.
Alex Murphy (Joel Kinnaman) e seu parceiro Jack Lewis (Michael K. Williams) estão as voltas com ondas de crimes na cidade de Detroit, onde armas que antes estavam guardadas como evidências no quartel da polícia, passam a tomar conta das ruas novamente. Determinado e muito impulsivo, Murphy está chegando perto de solucionar o caso ao desconfiar que dois de seus colegas de trabalho estejam envolvidos com o traficante de armas Antoine Vallon (Patrick Garrow), quando sofre um atentado e fica entre a vida e a morte. Sem saber, ele acaba se tornando uma peça essencial para os planos de Raymond Sellar (Michael Keaton) que deseja burlar uma lei ao conseguir implementar robôs policias nas ruas dos Estados Unidos. Assim que Clara (Abbie Cornish) assina os papéis, o Dr. Norton (Gary Oldman) começa os procedimentos para que Alex se torne o RoboCop. Só que mesmo com toda a tecnologia envolvida e seu corpo sendo mais da metade máquina, Murphy preserva em si as características essenciais de um policial e ser humano e não deixará ninguém sair impune.
Apesar de toda especulação que cercou esse filme, mesmo muito tempo antes dele vir a ser lançado, não tem como negar que José Padilha fez um bom trabalho. Ele conseguiu o que todo remake que se preze deveria fazer, que é se ater a história original e acrescentar elementos que ficaram de fora anteriormente, preenchendo ocasionais lacunas do passado. Com isso, seu RoboCop se aprofunda mais no tema ‘homem versus máquina’ e também insere na trama, personagens chave como a esposa e o filho, por exemplo, que aqui eles ganham uma importância maior, e antes apenas apareciam em flashbacks.
O roteiro ficou a cargo de Joshua Zetumer, além de Edward Neumeier e Michael Miner que também escreveram o roteiro do filme de 1987. Dessa forma, o plot conseguiu imergir por completo num futuro possível e explorar mais a fundo temas como o policiamento nas ruas, envolvimento de figurões com bandidos e até que ponto iremos deixar o maquinário nos dominar de fato. Ao mesmo tempo em que vemos algo familiar, Padilha consegue inserir questionamentos do nosso cotidiano e cutucar algumas feridas abertas em relação a política de governo atual e futuro, do nosso país e de muitos outros. Um ótimo exemplo disso é o papel do Samuel L. Jackson que faz um repórter bastante incisivo, com opiniões extremistas e que ao declará-las abertamente aos espectadores demonstra seu favoritismo em relação a implementação dos robôs nas ruas e total zombaria com quem pensa o oposto. Puro jogo de política nos meios midiáticos, algo que vemos com frequência.
Alguns mais exigentes poderiam afirmar que não há dificuldade alguma no papel do RoboCop, mas estão enganados. Não é uma atuação digna de Hamlet ou Macbeth, mas ainda assim, exige dedicação, algo que o ator sueco Joel Kinnaman soube fazer muito bem, visto que seus movimentos eram limitados – ele precisou atuar somente com os olhos e era possível identificar a menor mudança de comportamento e humor nas mínimas expressões faciais que ele apresentava. Os veteranos Gary Oldman e Michael Keaton se saem bem, mas não vão nada além do que é exigido pelo papel.
Assim como em seus outros filmes, Padilha tem uma preocupação louvável com os ângulos da câmera em algumas cenas e abusa muito sabiamente de planos abertos e meio close nas cenas de ação. Uma delas, a mais interessante sem dúvida, é a cena do tiroteio no escuro, tendo apenas como iluminação os disparos feitos pelas armas. A fotografia ficou a cargo de Lula Carvalho, com quem o diretor já havia trabalhado anteriormente. Com relação ao traje (mesmo tendo afirmado o contrário na coletiva de imprensa) ele permaneceu fiel ao original e assustou ao acrescentar este novo, preto, com uma aparência mais envelopada igual a um automóvel. Sem querer, foi criada uma distinção entre o RoboCop enquanto produto e humano, ao criar este novo traje. Dessa forma foi possível identificar a rendição do personagem, o que acaba por deixar o espectador bastante entusiasmado.
Ainda há bastante preconceito em relação a remakes, principalmente quando existe uma base de fãs fervorosos, mas há alguns títulos que são dignos de serem revisitados e merecem que nós, espectadores, ofereçamos uma segunda chance.
Ótimo review, Mel! Certamente eu vou assistir este filme ainda esta semana. Sou fã do original, muito mesmo, de ter até jogado o jogo para SNES, mas não vou com a mente fechada porque é remake. Um três estrelas de cinco não deve me decepcionar =D
Obrigada mesmo Luthy!! Fico feliz que o que escrevi tenha feito você querer ir ao cinema para ver e acho mesmo que vale a experiência. E 3 estrelas de 5 quer dizer um bom filme! É uma boa nota, média 7,0 já dá para ser aprovado na escola né?
Três merecidas estrelas, curti muito o debate proposto pelo Padilha, foi bem mais que um filme de ação. ótima crítica Mel.