AcervoCríticasFilmes

“O Sequestro” transforma história de suspense em comédia involuntária

Compartilhe
Compartilhe

Ao que parece, Halle Berry não desistiu de se aventurar no terreno do suspense automobilístico. Depois de viver uma operadora do serviço 911 que tenta salvar uma jovem sequestrada e colocada dentro de um carro em “Chamada de Emergência”, agora se aventura em mais um filme que procura causar tensão no espectador usando as longas rodovias americanas (mais conhecidas como “Freeways”) como cenário de boa parte da história. O problema, infelizmente, é que, assim como a produção de 2013, “O Sequestro” (“Kidnap”, 2017), tropeça em seus próprios erros, criando situações que, ao invés de provocarem calafrios na espinha acabam gerando risos inesperados devido aos absurdos causados pela direção equivocada e o roteiro cheio de frases ruins e momentos ridículos.

Na trama, Berry vive Karla Dyson, uma garçonete que luta para criar sozinha o filho Frankie (Sage Correa), ao mesmo tempo em que briga nos tribunais com o pai do menino por sua custódia. Numa tarde de folga, ela decide levar a criança para um passeio num parque quando, num momento de distração ao atender um telefonema, ela descobre que Frankie desapareceu.

Desesperada, Karla consegue ver que o filho foi levado pelo casal de sequestradores Margo (Chris McGinn) e Terrence (Lew Temple) e começa a seguir o carro dos criminosos, na tentativa de salvar o garoto. Sem poder contar com nenhuma ajuda, ela inicia sozinha uma busca incansável para descobrir para onde levaram Frankie e tirá-lo das mãos dos seus algozes.

Embora trabalhe com uma questão que apavora pais e mães, que é o desaparecimento dos filhos de forma inesperada, o que certamente causa uma identidade com boa parte do público, “O Sequestro” perde a oportunidade de se tornar mais marcante por causa do excesso de implausibilidade das situações que vão surgindo na tela. A começar pelo fato de que o roteiro, escrito por Knate Lee (cujos créditos incluem as comédias “Vovô Sem Vergonha” e “Jackass 3D”) excede nas falas expositivas, principalmente nos momentos em que vemos Karla dentro do carro dizendo exatamente o que está acontecendo na tela, como se o público não fosse inteligente o bastante para compreender o que está vendo.

O texto abusa de sequências difíceis de engolir, como a sagacidade da protagonista em perceber sinais que apontam por onde os sequestradores passaram melhor do que a polícia. Ou quando mostra que o carro de Karla está quase sem combustível, mas ainda assim é capaz de correr por vários quilômetros sem dar nenhum sinal de que vá parar no meio do caminho. Coisas como essas acabam sabotando o filme e deixando ele cada vez menos intrigante.

A direção do pouco conhecido Luis Prieto não consegue criar a tensão necessária para que o espectador fique grudado na cadeira, na torcida para que a personagem de Halle Berry consiga resgatar o seu filho, fazendo apenas o tradicional. Em alguns momentos, ele torna as atitudes da mãe tão pouco convincentes que a transformação dela de mulher assustada a uma leoa feroz fica risível. Por exemplo, uma cena, que acontece na metade da trama, deveria dar vontade de roer as unhas de nervoso, já que é o primeiro confronto entre Karla e os sequestradores, acaba de uma forma tão surreal que não dá para levar nada mais a sério. A parte final, então, não gera nenhum impacto por ser feita de forma bem burocrática.

Também produtora do filme, Halle Berry não chega a ser a pior atriz do elenco, mas está anos-luz do excelente trabalho que fez em “A Última Ceia”, do qual ganhou seu (até agora) único Oscar. Sua performance é apenas OK, mas ela acaba prejudicada, principalmente, pelo roteiro.

O menino Sage Correa não faz nada de excepcional, mas tem carisma e deve ganhar bons papéis no futuro. Os vilões interpretados por Chris McGinn e Lew Temple estão corretos, mas não conseguem causar muito impacto. O que salva os dois é a caracterização bem diferente do que se vê deste tipo de personagens num filme deste gênero.

“O Sequestro” entra para aquele grupo de filmes que só devem ser vistos quando todas as outras opções tiverem se esgotado. Se Halle Berry quer ser levada mais a sério como atriz principal, deveria procurar outros projetos mais interessantes e melhor trabalhados, como fez, por exemplo, Charlize Theron e seu recente “Atômica”. Pois, se continuar apostando neste tipo de proposta, vai acabar sendo relegada ao segundo ou terceiro pelotão de astros de Hollywood, com papéis menores que ficam abaixo do talento e do potencial que ela já demonstrou ter. Mas como a esperança é a última que morre, quem sabe ela não acerta num futuro não muito distante, quando menos se espera dela?

Filme: O Sequestro (Kidnap) 
Direção: Luis Prieto
Elenco: Halle Berry, Sage Correa, Chris McGinn
Gênero: Suspense
País: EUA
Ano de produção: 2017
Distribuidora: H20 Films
Duração: 1h 34min
Classificação: 12 anos

Compartilhe

Comente!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sugeridos
CríticasFilmesLançamentos

Crônica de uma relação passageira: amor nos tempos modernos

Ah, l’amour! O amor foi assunto de milhares, talvez milhões de filmes....

AgendaFilmes

Estação Net faz a 2ª edição de sua mostra com filmes natalinos

O Grupo Estação Net está fazendo, de 19 a 22 de dezembro,...

FilmesNotíciasPremiações

The New York Times inclui ‘Ainda Estou Aqui’ nas apostas para Melhor Filme

O jornal The New York Times recentemente destacou o filme brasileiro “Ainda...

FilmesTrailersVideos

Superman – Reboot nos cinemas ganha aguardado trailer!

Superman, o icônico super-herói da DC Comics, está de volta ao cinema...

CríticasFilmes

Mufasa mostra o que poderia ter sido o “live-action” de O Rei Leão

“Mufasa: O Rei Leão” é já previsível manobra da Disney de continuar...

FilmesNotíciasPremiações

Oscar 2025: “Ainda Estou Aqui” aparece na pré-lista de Melhor Filme Internacional

O filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, foi anunciado...

CríticasFilmes

Kraven é a despedida melancólica do Sonyverso

Ninguém acreditava que “Kraven, O Caçador” seria qualquer coisa distinta do que...